Zombeteiros

 
Leitores, espírito zombeteiro é coisa que tem demais da conta no Nordeste. Acredito que, para cada encarnado, haja pelo menos três desencarnados com o único propósito de lhe fazerem medo.

É muita alma. Não sei por que elas preferem ficar por aqui, tendo o mundo inteiro para assombrar ou que seria melhor para todos, ir para a luz. Se bem que eu desconfio que quando eu morrer também vou ficar neste plano, primeiro porque eu gosto de fumar, então vou me encostar em algum apreciador de Carlton. Segundo, eu adoro mangar, imaginem pois ter a percepção ampliada de todas as marmotas, mungangos e comédias que ocorrem em nossa região. É por aqui mesmo que eu vou vagar.
Apois. Pode andar pelo interior, Sertão, periferia da capital. Em cada casa é possível encontrar pelo menos uma história de visagem.
Uma das mais engraçadas que eu já escutei foi sobre o pai de um conhecido cuja esposa era mãe de santo. Esse senhor morria de medo da mulher, dos caboclos, pretos-velhos e pombas-giras.
Ora, todo mundo sabe que entidade séria não vai se prestar ao papel de assombrar o povo maaas, os espíritos zombeteiros, ah, meus amigos, é o passatempo deles.
Noite de obrigação era um tormento para o nosso amigo. Bom católico, devoto do meu divino São José, ficava quietinho no quarto desfiando o seu rosário enquanto no terreiro o povo dançava e recebia conselhos das Entidades do Astral.
Nisso os zombeteiros já estavam a par do medo que o nosso amigo tinha de alma. E resolveram pregar-lhe uma peça.

A casa onde moravam os pais do meu conhecido era grande, para chegar ao banheiro era preciso atravessar um longo corredor e em um dos diversos quartos ficavam guardadas as imagens dos santos, terror absoluto do nosso camarada.
Ele tinha o costume de levar o penico para o quarto porque tinha medo de ir ao banheiro de noite mas teve o azar de certa feita esquecer-se do utensílio. Aí quando a bexiga apertou foi o jeito.
Levantou-se todo se tremendo, enrolou-se no lençol e foi, pé ante pé, pelo corredor escuro. Pensem no medo! O cu não passava um cabelo, o espinhaço era um gelo.
Oh, rapaz. Quando chegou bem em frente ao quarto das imagens o pobre ouviu um remorso. Estacou petrificado, preso ao chão como cimentados estivessem os seus pés. Arregalou os olhos, o coração batendo a mil quando sentiu foi um sopro bem forte bem no pé d' uvido.

"FHOO!"

Se mijou todinho ali mesmo.
Srta Vera
Enviado por Srta Vera em 07/10/2015
Reeditado em 07/10/2015
Código do texto: T5407144
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