O SURDO, OS RELÂMPAGOS E SUA MULHER.

O SURDO, OS RELÂMPAGOS E SUA MULHER.

O casal era idoso. Muito religioso e ativos nos quefazeres. Já tinham bisnetos. A mulher fizera cirurgia de catarata com sucesso no enxergar, tanto longe como de perto. Ela tricotava e mantinha o hábito de caminhar e dançar com seu marido, que, embora míope dançava como Juscelino - era um pé de valsa - Como ficou conhecido nosso Juscelino. Entretanto, o homem escutava pouco e, às vezes quase nada.

O tempo passava lento. Chovia à cântaros, e, aproveitando o friozinho da noite o casal recolheu-se ao leito mais cedo. E a chuva caía noite-a-dentro. Não se ouvia o piar das corujas ou de outros bichos notívagos, às vezes seu vagar e barulho. Só se ouvia os pingos da chuva na noite, e o trovoar e os relâmpagos que iluminavam o bairro onde eles moravam. Não ventava... Nem as árvores balançavam seus galhos frondosos e folhas.

A chuva era mansa , embora os trovões assustassem de medo com seus estrondos. E o tempo não parava. O relógio carrilhão marcava às horas. Já era madrugada. Uma brisa começou a soprar forte. O homem acordou sonolento. A chuva agora era fina, quase uma garoa. O surdo foi até a janela da sala e ali ficou a contemplar a cidade e suas luzes coloridas. Um relâmpago clareou a sala. Perto e longe ecoaram vários trovões. O homem estremeceu: sentiu suas pernas bambearem. Ele levou as mãos aos ouvidos. Tapou-os por alguns minutos. Caminhou com dificuldade até a sala. E, de repente ouviu-se o piar de uma coruja. Voltou à janela e viu mais relâmpagos e, também, o tilintar dos pingos da chuva nas folhas das árvores. Sentira em seu âmago que escutava. Já não era mais surdo.

Sua mulher, ainda dormindo, apalpou o lado da cama do companheiro. E não sentindo o seu corpo chamou-o carinhosamente:

Querido.... Onde você está?

Aí ela lembrou da surdez do marido. Mas, todavia para sua surpresa o homem respondeu:?

- Querida, estou aqui... Na sala vendo a chuva e os relâmpagos. venha ver que espetáculo da natureza.... A mulher, amorosamente, levantou-se ganhando a sala e beijando seu amado disse-lhe ternamente: meu bem, você... Você está ouvindo!?

- E ele disse e falou: Sim querida, estou escutando você e o trovoar dos relâmpagos.

Foi um milagre... Foi um milagre.... Agradeçamos a Deus! E rezaram e oraram. E mais um relâmpago iluminou o casal ecoando um estrondo nos Céus.

F I M .