A Vendedora de Cosméticos
 
Leitores, é fato: vivemos em uma sociedade machista, patriarcal e estúpida. Isso afirmo porque, apesar de ser solteirona, tenho visto muitos casamentos se acabarem e todo mundo culpar a mulher. O homem é o bichinho, o coitadinho e a mulher a sem-vergonha, a rapariga que não deu valor ao que tinha em casa.

A história que segue é de um conhecido meu, a quem chamaremos Zé Wilson. O Zé já estava no quinto casamento.
 
Leitores, vamos combinar; quando um homem se separa pela primeira vez até que eu fico calada, afinal não se sabe de quem foi a culpa pelo amor acabar. Agora, o cabra se enganchar com quatro mulherers e não dar certo com nenhuma eu realmente desconfio que ele é que não presta. E não se trata de ser ruim, violento ou raparigueiro não. O homem pode ser trabalhador como todo, dar de um tudo pra mulher, ser fiel e honesto, mas se não tiver pegada, ah, meu amigo, rola não, ó! Como canta a querida Núbia Lafayette, "não é só casa e comida que faz a mulher feliz". Então, ou o caboclo não se garante ou a mulher não curte. Geralmente é a premissa um que voga.
 
Apois. O Zé Wilson é do tipo trabalhador, honrado e respeitador. Mas não dá sorte com mulher. Quando conheceu a Zefina, pensou ter encontrado a tampa da sua panela. Casou na igreja e no papel, fez arrasta-pé e lua-de-mel em Maranguape. Sim, o rapaz é romântico.
 
Tudo correu bem por um tempo. O Zé vivia para o trabalho, a Zefina cuidando da casa e a vizinhança no olho gordo por um casal tão harmonioso.
Até que um dia apareceu na Rua da Lama, esquina com Rua da Merda, uma vendedora de uma famosa marca de perfumes que eu não vou citar o nome para não fazer merchandising.
A vendedora conheceu a Zefina, vendeu-lhe umas maquiagens, uns perfumes e terminaram por virar amigas. A Zefina agora só andava perfumada e embatonzada, os homens da rua pensavam nas mulheres que tinham em casa e ficavam ainda com mais raiva delas e inveja do Zé porque a Zefina era bonita, nova e só andava pronta.
 
Acontece que as visitas da vendedora começaram a amiudar-se, muitas vezes passavam tardes inteiras juntas discutindo perfumes, hidratantes e novelas. Coisas de mulher. Só que as vizinhas invejosas começaram a maldar. Ficavam nas calçadas, de cabelos arrupiados e roupas desmazeladas, cochichando sobre o que faziam as duas beldades tanto tempo trancadas dentro de casa. E as histórias se espalharam, os homens davam risadinhas quando o Zé chegava da fábrica, até os cachorros da rua estavam a par.
Por último o Zé ficou sabendo do que falavam da Zefina. Em princípio não acreditou porque tinha coração bom mas depois, pensando melhor, o dinheiro dele estava indo todo para a compra de cosméticos da esposa. Certo que ela queria ficar bonita e cheirosa para ele mas...

Sempre o "mas". Essa palavrinha põe a perder reinos.
 
Certo dia o Zé Wilson almoçou, beijou a Zefinha e saiu para o trabalho. Entrava de duas. Mas foi uma manobra dele, escondeu-se detrás do muro do centro comunitário e ficou pastorando. Deu doze e meia, uma e meia, quando o sino da capela bateu as duas badaladas a vendedora passou com a sacola de produtos. Entrou na casa dele e a porta fechou-se.
Oh, rapaz. Pra que. O sangue do Zé ferveu. Como assim de portas fechadas. Havia algo de muito errado ali.
 
Foi bem de mansinho, na pisada de gato, abriu a porta beeem de leve e entrou sem fazer o menor ruído.
A sacola de produtos em cima do sofá. Tudo em silêncio.
Seguiu pelo corredor. A porta do quarto estava entreaberta. Que que ele viu: a Zefina e a vendedora, nuas, abraçadas em cima da cama trocando beijos de cinema.
Aí, meu filho, baixou a Maysa. "Meu mundo caiu". O Zé começou a gaguejar, a rinite atacou, ele berrava, chorava, tossia, as mulheres ficaram da cor do lençol. Quando o Zé foi no rumo da cozinha a vendedora pensou que ele tinha ido pegar uma faca, vestiu-se na maior ligeireza, pegou a bolsa e fugiu que o rabo era um rei. Deixou a amiga sozinha na boca quente. A pobre só chorava, toda se tremendo. O Zé não merecia mas fazer o que, a outra sabia fazê-la feliz.
Começou a rezar pois sabia que ia morrer. Quando deu fé o Zé voltou com uma corda, dobrou-a em duas pernas e deu-lhe uma surra de tirar o couro. Depois expulsou-a de casa.
 
Tempos depois, quando o Zé me contou essa história, eu achei o final muito invocado. Surra de corda? Pra que essa violência, homem?
"Pra ela aprender a me respeitar!", ele disse enfaticamente.

Eu não disse nada para não perder a amizade. Mas...
Srta Vera
Enviado por Srta Vera em 10/10/2015
Reeditado em 11/07/2018
Código do texto: T5410402
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