Não mate a criança que existe em você

"Pare de ser criança", eles dizem. "Pare de se comportar como se tivesse cinco anos de idade", eles persistem. Mas eles se esquecem de que todo mundo tem em si a criança que foi um dia. Crescemos ouvindo que devemos ser racionais e maduros e não paramos para pensar, por um minuto sequer, que estamos levando essa vida a sério demais.

E ser criança é diferente de ser infantil. Por isso, sejamos eternas crianças e guardemos nas boas lembranças a nossa infância - se bonita ela for. Ser criança é o que há de mais valioso dentro de nós. Se matarmos ela, o que será dos nossos dias nublados sem o bom humor para driblar a tristeza sem causa? O que será das conversas sem risos espontâneos? O que será de nós sem o verdadeiro amor? O verdadeiro amor é uma coisa engraçada, por muitas vezes maior do que quem o sente, maior do que a infinidade do universo. Ser criança se trata disto: não ser capaz de dizer o tamanho do amor, ele é imensurável; não ser capaz de explicar o efeito do amor, ele é inexplicável. A nossa sorte é que ele é demonstrável. Então, não podemos perder isso. Se não, o amor se perde em nós. Se matarmos a criança que existe em nós, matamos também as perguntas que movem o mundo, a consciência da importância dos pequenos detalhes, a noção da beleza de um dia de sol, a esperança da humildade, bondade e altruísmo mergulhados no mar do consumismo e individualismo. Cortamos pelo raiz a melhor parte de nós.

Crianças não têm vergonha de demonstrar o que sentem e não têm maldade em dizer o que as incomoda. Por que então crescemos e perdemos essa essência? E por que ainda nos orgulhamos disso? Deveríamos preferir ter medo de bicho papão do que de se apaixonar. Deveríamos preferir dizer a verdade do que a mentira que não magoa. Deveríamos preferir fazer brincadeiras bobas do que fazer piada preconceituosa. Deveríamos preferir estar presentes na vida dos filhos em vez de dar presentes no Dia das Crianças. Sejamos presença, porque esse é o melhor presente. E sejamos crianças, porque envelhecer às sombras da amargura da vida é o pior jeito de morrer.