TUDO TEM SEU PREÇO

Naquele dia Edinho saiu de casa muito cedo para mais uma de suas aventuras. O que ele detestava era ficar na ociosidade. Precisava encontrar algo para preencher seu tempo. Era inquieto. Muito ansioso; tanto que a maior preocupação de sua mãe, Dona Elizinda era quando Edinho passava um dia sem aprontar das suas.

Batia a preocupação: Problemas de saúde!

-Edinho, meu filho - dizia ela. -Você está bem?

Mas, nem sempre tinha a resposta que lhe convencesse acreditar que ele estivesse bem. Sabe como é. Menino esperto, muito maroto. Seus argumentos nem sempre convencem quem quer que seja. Ele dizia:

- Sabe mãe! Acho que é apenas cansaço! Brinquei muito ontem. Até ajudei a senhora arrumar a casa. Lembra?

Eram desculpas esfarrapadas de quem não achava uma explicação para justificar seu mal estar.

Só que agora Edinho estava bem. Disposição era o que não faltava para quem estava despertando para um novo dia. E algo era preciso fazer. Afinal ele não era um garoto qualquer. Vivia a procura de algo para fazer e como era ainda criança vivia um mundo de descobertas. Logo ideias foram surgindo e Edinho sem perda de tempo saiu em direção à casa de sua avó distante dali uns três quilômetros.

No caminho encontrou um gato que como já o conhecia não foi difícil fazer-lhe pequeno agrado, mas o suficiente para amarrar no rabo do pobre bichano; um busca-pé, desses que soltam em festas juninas. Pobre gato! Edinho com cuidado encostou-se a ele um isqueiro e ateou fogo.

Sentindo o fogo no rabo o animalzinho corria e rolava pelo chão, saltava, miava assustadoramente indo se esconder debaixo do colchão de Edinho, que tinha como enchimento palha de milho, como era costume daqueles tempos. Com a explosão do busca-pé espalhou muito fogo incendiando o colchão que dona Elizinda em desespero sofreu muito para evitar que se espalhasse pela casa. Enquanto isso o menino rolava pelo chão de tanto que achou graça de sua façanha.

Logo Edinho chegou à casa de sua avó que dormia tranquilamente no alpendre de sua casa. Em um cantinho do alpendre havia um vespeiro de marimbondo caboclo (nome dado devido sua cor avermelhada) Esses marimbondos atacam com ferroadas muito doloridas que duram até 24 horas. É terrível mesmo!

O menino não vacilou. Sem pensar duas vezes arremessou contra o vespeiro uma bola de meia que ele mesmo fabricava como brinquedo, e para que sua maldade fosse completa acertou em cheio o vespeiro com os marimbondos saindo desesperados à procura de seu agressor.

E quem foi aí a vítima?

Pobre avó de Edinho que acordou desesperada com ferroadas por todo corpo. A pobre velha correu para dentro de casa, fechou a porta e atormentada começou a passar nas ferroada uma pomada caseira feita com hortelã. Seu corpo queimava como em chamas. Enquanto isso Edinho rolava de tanto rir da desgraça cometida com a própria avó.

Alertada pelos gritos de dona Dulce; sua vizinha correu em seu socorro e a levaram imediatamente para a cidade de Macaé ali não muito distante.

Foram alguns dias de internamento, mas felizmente dona Dulce voltou para casa agora traumatizada com abelhas. Não podia sequer olhar para o vespeiro. Sentia medo, pavor, arrepios. Vizinhos se reuniram e desalojaram o vespeiro da casa de dona Dulce para somente assim ela poder voltar a desfrutar o sossego do descanso no alpendre de sua casa.

E Edinho? Como ficou? É como diz o ditado “O castigo sempre anda a cavalo”.

Saindo dali Edinho foi passar por uma trilha à beira de um riacho onde havia ali uma plantação de arroz que estava sendo destruída por manadas de capivaras.

O senhor Martiniano dono da plantação havia feito uma armadilha para capturar as capivaras vivas. Havia feito na trilha um enorme buraco de mais de dois metros de fundura e coberto com palha de arroz como disfarce. Mas, quem foi passar por ali? Justo o Edinho que havia feito tamanha crueldade com a sua avó.

Não deu outra! Edinho despencou dentro do buraco e como não podia sair abriu a boca a gritar por socorro.

Passou horas ali e quando já era quase noitinha o senhor Martiniano foi lá para ver se tinha apanhado alguma capivara e qual não foi seu espanto quando encontrou quase desmaiado Edinho que havia ficado preso lá dentro durante boa parte do dia.

Ele que apesar das traquinagens não chegava muito tarde em casa já havia causado preocupação.

Mas o senhor Martiniano que havia chegado a casa levou o menino até a família. Lá contou toda a história que só serviu para boas gargalhadas dos vizinhos que o apelidaram de capivara devido ao acontecido.

E como diz o ditado: “Quem com muitas pedras bole uma pode lhe cair á cabeça “Para Edinho esta foi uma grande lição e a partir daquele dia nunca mais procurou fazer atos reprováveis e passou a ser um menino até exemplar para a satisfação dos familiares”“.

Antonio Barros de Moura Filho

Antonio Barros
Enviado por Antonio Barros em 12/10/2015
Reeditado em 21/12/2015
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