DÉCADA DE 60 - A década que me viu nascer

Nasci num tempo em que um rei estava sendo coroado, o rei Pelé, rei do futebol, de habilidades sem igual, mas houveram outros magos do futebol como Mané Garrincha, Rivelino, dentre outros tantos, que desenvolveram esta arte com grande maestria!

O Brasil foi bicampeão mundial na Copa do Mundo de 1966.

Naquele tempo se jogava por amor ao futebol. Ninguém jogava visualizando maletas repletas de euros ou dólares, um bom clube da Europa, e prestígios internacionais. Jogavam pela raça, quem era bom já nascia feito, não precisava ser produzido. Grandes mestres! Ninguém se vendia por dinheiro. Naqueles tempos havia amor a camiseta de seu time, e reverência a camisa da seleção brasileira!

Esta década teve seus tempos de glória! Consagravam-se os Beatles, e todos cantavam e dançavam o seu rock and roll. Também outros como Jime Hendrix e Janis Joplin embalavam a juventude mundial.

No Rio de Janeiro nascia a "Garota de Ipanema", uma das mais conhecidas canções de Bossa Nova e MPB, composta em 1962, letra de Vinícius de Moraes e música de Antonio Carlos Jobim.

Piracicaba, 24 de março de 1968. Ano em que nasci! Tudo bem que era "Ditadura". Jovens estudantes, professores, jornalistas, cantores, atores e quem se manifestasse contra o pensamento político dominante "desaparecia". Alguns nunca foram encontrados até os dias atuais. Outros foram deportados.

Mas apesar de tudo, havia mais segurança nas ruas. Todos conheciam o "toque de recolher", o policiamento era rigoroso, a bandidagem temia, não se falava quase em tráfico. As leis eram mais severas e rigorosas.

Ser professor naqueles tempos era sinônimo de prestígio! Ganhavam bem, eram reconhecidos, tinham autoridade e autonomia em sala de aula.

Vivíamos a época dourada da MPB, com inteligentes músicos, compositores e cantores. Época de música de qualidade com forte conotação política e social! A época gloriosa de Chico Buarque, Caetano Veloso (líder do movimento chamado Tropicalismo), Gilberto Gil, Geraldo Vandré (que motivou a juventude com o seu "quem sabe faz a hora, não espera acontecer), Roberto Carlos e sua "jovem guarda" que abrilhantavam as tardes de domingo! Tempos de bailes embalados por orquestras.

O ano de 1968 foi um ano bastante confuso e violento, com a guerra do Vietnã, a Revolução Cultural na China, a invasão soviética da Tchecoslováquia tendo como consequência a Primavera de Praga , revoltas estudantis, marchas pelos direitos civis e enfrentamentos raciais por todo o planeta. No dia 04 de abril, Martin Luther King, importante líder negro na luta contra o preconceito nos EUA, foi assassinado.

Neste ano de 1968, acontecia as Olimpíadas do México. O salto de Robert Beamon é, até hoje, o mais famoso da história das Olimpíadas. Na final do salto em distância, o norte-americano registrou 8,90 metros. Na época, o recorde mundial era de 8,35 metros, 55cm a menos do que a marca de Beamon.

Ocorreu também um fato inédito ainda, o atletismo, o remo, a canoagem, a natação e as competições equestes foram cronometradas manual e eletronicamente, mas pela primeira vez foram as marcações eletrônicas que se tornaram as oficiais.

Ainda nesta Olimpíada, uma imagem acabou tornando-se um ícone fotográfico dos anos 60, quando dois atletas negros norte-americanos Tommie Smith e John Carlos, ouro e bronze nos 200 metros rasos, após receberem as respectivas medalhas, levantaram seus braços esticados com as mãos cobertas por luvas negras e punhos fechados em saudação ao "black power" do partido revolucionário dos Panteras Negras. Esta atitude deu-se em protesto pela segregação racial e apoio aos movimentos negros em seu país. Ambos abaixaram a cabeça enquanto seu hino nacional tocava no estádio. Este ato foi televisionado e transmitido para o mundo todo. Os dois atletas foram expulsos da delegação americana e da vila olímpica, por conta desta atitude.

O ano em que nasci foi um marco na história, não só no Brasil, como também no mundo, por todos estes fatos e acontecimentos.

Por fim, em 16 de julho de 1969, Neil Armstrong, Edwin Buzz Aldrine e Michael Collins, tripulantes da nave Apollo 11, pararam o mundo com a notícia de que haviam pousado na lua.

Com toda certeza, eu nasci numa década de glórias, e participei de momentos marcantes da história!

E hoje? O que dirá esta geração? O que terá para contar?

Um país envolvido em escândalos e mais escândalos. Políticos calhordas mensaleiros que transferem milhões de forma ilícita para favorecer determinados interesses. Integrantes do governo juntamente com grandes empreiteiras envolvidos na "Operação Lava Jato", esquema de lavagem e desvio de dinheiro envolvendo a Petrobrás (Empresa Estatal de Economia Mista). E o que é mais triste, não existe punição severa para eles. Ao final, tudo acaba em pizza.

Falta policiamento e maior segurança nas ruas. A bandidagem manda e desmanda. Acabam sempre soltos.

A saúde neste país é precária! Está em estado deplorável! Trazem médicos cubanos para atender a uma população carente, digamos até mesmo analfabetos funcionais, que não conseguem entender o espanhol enrolado dos cubanos, sendo que estes estão a orientar a saúde e a prescrever medicamentos e exames a uns infelizes que não compreendem o que os médicos explicam, e ficam a ver navios.

E a educação nem se fale, está um caos! Esquecida do fundo de uma gaveta. Professores ganham mal, não têm mais autonomia para nada, não têm mais autoridade, são desrespeitados e agredidos constantemente em sala de aula!

O que vemos atualmente no Estado de São Paulo são escolas sendo fechadas e presídios, e mais presídios sendo construídos.

E para acabar, o Funk vira preferência musical de uma parte bastante considerável da população. A meu ver, um desgosto musical, uma desconstrução de tudo o que é inteligente, mais puro e belo em termos de música, por ignorantes que não sabem compor e não têm o que cantar, um apelo ao sexo, ao corpo, às drogas e a rebelião. Mocinhas quase sem roupas, quando não totalmente sem, rebolando na frente de marmanjos que se desmancham em delírios orgíacos nos famosos bailes funks. Neste diapasão de "desgostos" cito ainda o "sertanojo", que vai nesta mesma mão de direção, e acabou com a música sertaneja raiz dos saudosos "Tião Carreiro e Pardinho", "Tonico e Tinoco", dentre outros.

Quanto ao futebol, paixão nacional, jogadores que só pensam em dividendos, se deixam levar pelo brilho dourado dos times europeus, não amam nem honram a camisa que defendem, jogam somente pelo dinheiro, e se não é grande, caem fora.

Uma seleção que se vendeu duas vezes por dinheiro! Um futebol manipulado por poderosos.

Sim, com toda certeza, eu nasci numa das melhores décadas, a década de 60, e apesar das tragédias nacionais e mundiais ocorridas, tenho mais coisas bonitas e boas para recordar, do que terá esta geração atual!

Márcia Barbosa de Souza

Piracicaba, 15 de outubro de 2015.

Para a coletânea "Nascidos nos anos 60"

Editora Papel de Arroz/Portugal

MButterflyS
Enviado por MButterflyS em 16/10/2015
Reeditado em 27/10/2015
Código do texto: T5416668
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.