Sobre o fim que não se quer anunciar

Só o coração de uma mulher pode entender o coração de outra mulher, quando ela já te pediu mil vezes para mudar - por ela, por você, por vocês; quando ela já cansou de repetir que estava cansada; quando ela te explicou pela enésima vez que não dependia só dela, mas que ela precisava que você quisesse e tentasse também; quando ela te olhou nos olhos, entre lágrimas e soluços, dizendo que não aguentava mais sofrer pelos mesmos motivos toscos de sempre. Que tudo bem que ela própria muitas das vezes era quem os transformava em coisas grandiosas, maiores do que verdadeiramente eram, mas que você sempre sabia onde ia dar quando começava. Sempre sabia como ia acabar. E acabou. Você é que não prestou atenção no que ela sempre fez questão de dizer. Mas é que você sempre ouviu dizer que "cão que ladra não morde" e achou que essa máxima valesse pra tudo na vida e que ela não iria embora jamais. Todas as ameaças, ano após ano, não passavam de blefe.

Mas, enquanto você insistia nas suas ilusões e se negava a evoluir junto dela, ela foi se tornando mais calada e pensativa. Foi analisando com mais frieza a relação dos dois e começando a entender que as expectativas eram dela e você não tinha nada com isso. Foi também entendendo que do mesmo modo as decepções seriam só delas e nada de responsabilidade você tinha em não poder dar o que jamais prometeu. Mesmo que algumas promessas tenham sido feitas e quebradas. Ela entendeu que pra não se decepcionar basta não criar expectativas; principalmente em cima de pessoas que não querem ou não podem ser capazes de alcança-las e satisfaze-las. Entendeu que querer mudar o outro mais que bobagem é ambição demais, pra quem já tem a própria vida pra guiar. E ela não quer ser mãe de ninguém pra ensinar como deve ou não ser feito tudo na vida. É pretensão demais pensar que o outro te deva alguma mudança. Talvez você é quem deva a si mesmo. E ela entendeu isso e foi deixando de sofrer pelas coisas que não podia controlar. Mas também foi deixando de sentir entusiasmo pela relação de vocês. E o que há tempos era morno foi ficando frio até que se apagou. Ela não mais comprava as suas desculpas, até que passou a não tolerar as próprias desculpas que dava a si mesma para levar adiante uma relação, que já não tinha muito para onde lhes levar.

Então arrumou as coisas e foi embora da sua vida. Então, mesmo sentindo muito, te deixou chorando e implorando perdão. Dessa vez não podia e não iria voltar atrás. Ela avisou que esse dia iria chegar, mas você nunca acreditou. Você ate riu e debochou da cara dela! Agora, sem saída, restou apenas a sua dor e as lembranças que você jamais queria ter perdido. Mas você não quis acreditar. Você preferiu crer em ditados ultrapassados. Agora o cão já não ladra e também já não morde. E você sente falta. Muita falta. E você sente dor. Toda dor do mundo, dentro de seu coração.