Inatismo

As palmeiras tinham suas folhas recurvadas pelo vento daquela manhã de agosto. Nenhuma nuvem no céu testemunhava o que o sol presenciava de olho arregalado. A acolhedora pracinha do bairro era ocupada apenas por duas criaturas que desconheciam o tempo do relógio dos homens. Enevoados em si, não atinavam para a conversação exaltada das rosas em torno do lírio nem para os planos ameaçadores das folhas do ingazeiro de grossas raízes escavadoras.

A cidade arquejava sob a prece diária de buzinas e motores. As portas se abriam e as correntes tilintavam. Os ecos urbanos reverberavam ao longe em rugidos selvagens. A gentil praça, porém, fechava-se para que os ruídos não extravasassem sobre seus dois ocupantes.

Os dois corações batiam em uníssono, embora não soubessem o que era aquilo. Sabiam, aliás. Não precisavam de conhecer sístoles, diástoles ou sinapses para perceberem que estavam em união. Olhos nos olhos, íris com íris, pupila com pupila. Não eram apenas fisiológicos. Respiração ofegante, o mundo se desfez entre lábios. O amor não é ensinado, é vivenciado.