1 – Gosto Não se Discute
 
Eu gosto de olhos que sorriem, de gestos que se desculpam, de toques que sabem conversar e de silêncios que se declaram.” (Machado de Assis)
 
A escritora gaúcha, Martha Medeiros, criou o termo ¨pessoas habitadas¨ ao se referir ao tipo que parece possuído, mas não necessariamente pelo demo. São aquelas preenchidas por angústias, questionamentos, conflitos e indecisões, mas que não são menos felizes por conta disso.
São o tipo de gente que ao serem chamadas respondem como se de fato alguém estivesse ocupando sua personalidade. São tremendamente originais, mas encontram-se muito longe de serem perfeitas. São, de fato, elas mesmas e, portanto, encantadoras e cheias de vida.
As pessoas habitadas não procuram imitar ninguém. São as criadoras de si mesmas e da sua própria personalidade. As pessoas deste tipo podem ser classificadas como um tipo de obra de arte única e isso cria em torno delas um significado especial. É muito difícil ignorar a presença de alguém assim.
A questão que Machado levanta pode ser devidamente compreendida com o foco neste tipo de pessoa.
Olhos que sorriem: saber sorrir por dentro, sem forçar, mostrando toda a alegria que corre dentro de sua alma é uma energia que transcende o próprio ser enchendo a pessoa do mais completo significado. Quem sabe sorrir com os olhos demonstra uma superioridade de alma, uma aura, uma esfera de proteção superior que leva-a para muito distante de se infelicitar com as quimeras levianas da maioria das pessoas. Machado devia, com razão, se encantar com elas e Capitu, provavelmente, foi inspirada neste tipo de pessoa através do seu enigmático e persuasivo olhar.
Gestos que se Desculpam, de toques que sabem conversar: em um interessante filme que assisti na infância, um garotinho, ao ver a tristeza da mãe, simplesmente pergunta já agindo: - Quem precisa de um abraço? Confortou-a com sua ingenuidade enchendo-a de alegria superior. Gestos não apenas se desculpam, gestos falam e é comum entre os Educadores Físicos o aforismo ¨o corpo fala¨. Transformado sua alma e adotando uma conduta isenta, doadora e superior, sentirá a cada dia como transmitir através de cada sinal do seu corpo como está se sentindo. Bons observadores também passam a conhecer os demais pelos gestos e podem, com o tempo, tornar-se ótimos leitores da personalidade alheia.
De silêncios que se declaram: o silêncio pode falar tão alto que nenhum discurso se tornará mais eloquente. Eis uma verdade fabulosa. Responder com o silêncio a um perturbador, a uma ofensa, a um comentário malicioso pode ser mais significativo do que tentar dizer qualquer coisa. Mantenha a atenção no silêncio que pode emitir e verá o peso do seu verbo ser transformado em ouro quando abrir sua boca dentro de um bom propósito.