Desmaio

Este sono, sem dúvida, ele tem sido o melhor amigo. Nele, me esqueço de tudo. Quando mal, deito meu corpo sobre seus lençois, escondo com ele os meus olhos e mergulho no nada. Aqui, não sinto o peso dos meus ombros. Não sou feliz nem triste. Sou ninguém. Não sinto o fado que carrego nos meus dias. Não faço, não ajo, não tento. Simplesmente existo.

Existo no escuro dos meus pensamentos, na arquitetura criativa da minha imaginação. Existo no lugar que não existe, no universo ideal, dinâmico, mutável. Existo no nada, no paradoxo desconhecido do mundo dos complexos. Existo, não fisicamente, não de corpo, mas em espírito, em alma.

Aqui é meu planeta! O meu hipocampo imapeável, íntimo. O meu estado, o meu ser. Aqui, não sei onde estou, quem sou, pronde vou. Não sei o que faço, o que fui ou o que farei. Aqui, não penso. Simplesmente alço voos finitos que aparentam ilimitada duração. Esqueço-me de mim mesmo e saboreio, unicamente, da minha natureza psíquica que, em tais momentos, é quem me apraz. Essa estranha escuridão que nos encanta com cores diversas, esse desmaio duradouro que nos deixa conscientes do mundo empírico, não há remédio melhor.

Não lembro ninguém, alguém, outrém. Neste mar eterno de efêmero descanso, perco-me na imensidão do nada e esqueço, por instantes, todos os meus problemas.

Rodrigo Machado Carmo
Enviado por Rodrigo Machado Carmo em 02/11/2015
Código do texto: T5434927
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