Um texto ácido, sarcástico, mas que precisa existir.

EMOCIONAL

-Sempre procuro ter paciência, mas hoje, tive de projetar mais a voz para pedir exemplos...- disse ela, a professora.

-... tão emocional...- concluiu ele. O colega da professora.

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Foram tantas as questões que esse recorte de conversa (baseado em fatos reais) me provocou, que resolvi fazer um esquemão (vai que cai no ENEM), dividindo-os em tópicos.

E, para além do que poderia ser categorizado...aí vão, também, duas sugestões de novas categorias textuais nas quais esse texto se encaixaria:

-Circo do Horrores (gênero no qual se fala sobre 'pequenos' episódios vividos por negros, gays, lésbicas, professores, mulheres, pobres, enfim, tudo que geralmente é a piada de quem não é nada disso.);

-Texto de Utilidade Pública (Gênero que orienta a comunidade, conduzindo-a didaticamente a perceber coisas de difícil compreensão. Como, por exemplo, que professor não é uma força maligna, que mulher não é incapaz, etc. Se você deixar, esse tipo de texto funciona melhor que a coleta de lixo da sua rua - e ainda é grátis. :D)

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Mas, conforme o prometido, aí vão os tópicos:

--Conseguir se envolver com o trabalho é imprescindível para um profissional de sucesso. Uma pessoa que não consegue se divertir, sentir seu público, sua mensagem e sentir a si mesma enquanto trabalha, precisa -com urgência- mudar de ramo.

--Advertência é um recurso para reivindicar respeito (meu por direito, independente de gênero e profissão). A partir do momento em que compartilho tal historia com um colega de trabalho, que além de não demonstrar empatia, julga o recurso por mim escolhido como “tão emocional...”, desconsiderando totalmente as leituras que se faz para ser docente, a formação, o mestrado, os eventos, os artigos produzidos, mas principalmente, o tempo dedicado a esse serviço, sou levada a pensar em:

a) Machismo disfarçado (tipo: awn...tão bonitinha. Tão emocionalzinha. Guti-guti.)

b) Ingenuidade da pessoa que não sagrou nem metade do que a docência reserva(“Perdoai, Pai. Eles não sabem o que dizem”).

c) Deixa para lá ( Professor e mulher já são saco de pancada da sociedade mesmo, afinal).

--Sugiro que parem de colocar filhos no mundo com urgência. Porque para se educar um filho, se deveria ter mais discernimento do que seja um ato leviano e do que seja pró-educacional. Deveria-se. Ou então tira-se o filho da escola. Já que uma advertência professora-alunos é tida como atitude meramente emocional, acredito que todos saibam educar.

--Um contingente de pessoas é colocado no mundo e remanejado para as mãos d@s professores e professoras todos os anos. O docente acaba por ser o adulto responsável pela educação daqueles indivíduos. É aquele que faz o 'trabalho sujo' de pegar na mãozinha e ajudar o sujeito a escrever, e a ter paciência, e a acreditar que apesar de aquele indivíduo não ter sido minimamente planejado pelo casal que o concebeu (ou não), ele é especial e será alguém na vida. É no mínimo UMA GRANDE CARA DE PAU da parte de quem quer que seja julgar um ato fora do seu contexto. E a cara de pau só aumenta quando se trata de julgar um educador que muitas vezes, sinto informar, ESTÁ PROTAGONIZANDO A CRIAÇÃO DO SEU FILHO(a) e vendo o quanto ela ou ele necessitam e QUEREM uma orientação ( que às vezes não vem de lugar algum, então ele assume as rédeas do processo).

--Não estou por um fio. Estou, sim, em uma das melhores fases da minha vida, como professora ,como mulher, como ser humano. Não tenho doença grave. Não sou desrespeitada pelas pessoas que sirvo diretamente (as que realmente sabem do meu esforço). E é desse suposto 'topo' roda-gigantesco mesmo que vejo tudo isso acontecer.

--Chegar à conclusão de que ter estudo, profissão,experiência laboral, boa educação, boa aparência e ganhar dinheiro AINDA NÃO EMPODERAM UMA MULHER porque ela simplesmente NASCEU UMA MULHER, não é fácil.

--Ser REFÉM desse grande tumor fossiliza, que é morrer de se gabaritar pra ouvir um “Tão emocional”, pega mesmo nas estranhas.