A FELICIDADE

Aluisio Rodrigues

Um adolescente me questionou sobre o conceito de felicidade.Tema complexo que deve ser abordado de diversas maneiras, dependendo da finalidade pretendida.

No caso, objetivava estabelecer parâmetro entre os conceitos de um idoso e os de um jovem pretendente à Universidade, submetido à avaliação de ingresso.

Segundo informou, a partir do meu conceito, ele formularia o dele como exercício acadêmico, a ser submetido à avaliação do professor do cursinho que freqüentava.

O que seria, então, a felicidade para um e para outro?

Então respondi-lhe que para o jovem, somente ele tem condições de discorrer sobre o tema, sobre os questionamentos da vida; o relacionamento família; com os seus colegas de faixa etária e suas amigas, paqueras ou não; sua visão de um mundo globalizado; do futuro que o espera; dos conflitos político-sociais que grassam atualmente em todo Universo.

Na análise não faltará como condimento especial e necessário o fator psicológico, eminentemente pessoal, subjetivo.

Esta tarefa certamente será o objeto da comparação entre as opiniões de duas personalidades, separadas no tempo por mais de meio século, no entanto, ligadas pela inquietude do querer saber e pela experiência do haver vivido.

Experiência resultante do repensamentos de valores e conceitos tidos no início como verdades indiscutíveis.

Depois, revelados como sonhos utópicos, às vezes falsos, de crenças que não resistiram à análise objetiva da realidade.

Ou então, chegar quase ao final da caminhada, repassar o passado, almejar ainda um futuro, se não tão longo, pelos menos com discernimento para avaliar o que se fez; o que se produziu; o que lhe restou dos sonhos da mocidade. Se quimeras que se esvaíram como folhas ao vento, ou projetos realizados no curso do tempo.

Em suma, algo de positivo a ser repassado aos mais jovens, esperançosos como fora no passado, de alcançar a idade provecta com otimismo; gratidão a Deus pela concessão da longevidade, e aos próximos pela paciência em suportá-lo.

A satisfação se completa com a curiosidade de um jovem em saber o conceito de felicidade e compará-lo ao seu, e talvez segui-lo.

Neste particular, felicidade é constatar, no coroamento da caminhada existencial, que seu pensamento sobre a vida ainda desperta interesse aos mais jovens.

Esta concepção, no entanto, deve ser tomada em condições particulraissima, dentro do objetivo perseguido pelo jovem a quem irá servir de parâmetro a visão de um idoso.

No entanto, escrever sobre a Felicidade remete o raciocínio a vários outros anglos do seu significado.

Felicidade no sentido geral, amplo, material, espiritual?

Ou o conjunto desses fatores, como resultado de bem estar, de paz, satisfação, gratidão pelos momentos vividos no presente, ou ainda, pelos ultrapassados ao longo da vida.?

A vastidão dos conceitos leva sua delimitação a um de seus aspectos, ou embora pareça contraditório, à sua definição, utilizando-se como exemplo a realidade do momento.

Tomado este aspecto como ponto de partida, defino a felicidade como um estado de espírito vivenciado a cada instante, ou então o somatório de todos eles; ou seja, um estado geral de satisfação pessoal.

Em outras palavras: o viver de bem com a vida, desfrutando os bons momentos na forma e no modo possíveis, e transformando os maus, os indesejáveis, os negativos, em algo de proveitoso.

Mas seria isso possível? Sim, é possível porque em cada momento vivido há algo aproveitável, por mais desagradável se apresente ou assim possa parecer.

Há sempre uma lição de vida a ser aprendida, seja para evitá-la ou aproveitá-la. Há sempre um fato ou um exemplo de comportamento humano para deles se extrair algo positivo, capaz de nos fazer repensar valores antigos, cultuados ao longo da vida.

Se não isso, rever conceitos aparentemente consolidados, embora jamais submetidos a uma avaliação sobre o real significado, a importância ou a necessidade em adotá-los. Simplesmente foram aceitos como dogma.

Advirta-se, porém: esse repensamento não contradiz a afirmação inicial de aceitar-se as boas coisas da vida conforme se apresentam e transformar os momentos ou situações negativas em algo positivo, que possa servir como lição de vida.

Não é bem assim. Na hipótese, apenas se assume uma posição crítica, racional, traço característico do humano e diferenciador do irracional.

A felicidade pode, então, consistir na arte de saber administrar a vida.

Biuza
Enviado por Biuza em 28/06/2007
Código do texto: T543772