Um alento, por favor...

Respirou fundo. Precisava de fôlego, de ânimo, de um tempo para si mesma. Sua cabeça parecia que ia explodir e seu coração parecia que ia parar. Sentia uma dor no estômago, semelhante a uma náusea sem fim. Estava sempre ali, sem parar. Sempre rondando. Sempre a ponto de vomitar o desespero, o estresse, o nervosismo de viver em que seus dias haviam se transformado. Tomou um gole de chá e olhou pela janela os prédios lá fora. Quantos como ela estavam naquele momento olhando pelas janelas de suas salas apertadas, sentindo a mesquinhez de um mundo regido por um sistema duro, pesado, corrido, que não deixava tempo para mais nada, além das exigências que fazia cumprir?

Sentiu a náusea com mais força e uma lágrima quis se ensaiar em seus olhos. Apertou-os forte e olhou com desdém e desprezo por si mesma para a tela do computador. Quantos pensamentos tolos, pensou aflita e revoltada consigo mesma. E o relógio, olhou rápida e ferozmente, continuava a correr. O telefone tocou, atendeu num sobressalto. A ligação caiu. Deu graças ao senhor Deus, não estava com vontade alguma de falar com quem quer que fosse. Ainda menos com aqueles clientes chatos que só faziam cobrar ou perguntar as coisas mais descabidas e despropositadas do universo. Sentiu raiva de si mesma por odiá-los com toda força do mundo, mas eles eram muito mais chatos e insuportáveis, do que jamais esteve preparada para aguentar.

Queria sair, queria fugir daquela vida. Queria voltar a ter novamente 15 ou 18 anos e fazer tudo diferente em as vida. Seguir aquele sonho louco de viajar o mundo com uma mochila nas costas ou de virar cantora. Talvez se tivesse continuado com sua banda de adolescentes sonhadores... talvez tivesse dado certo e estivesse satisfeita agora. "Talvez" era tão longínquo e tão injusto e ela nem era tão velha assim para sonhar, mas andava tão desanimada... precisava de um alento, mas não havia um que fosse que lhe entusiasmasse a voltar a querer sonhar. Presa num escritório de poucos metros quadrados, dividido com outras três ou quatros pessoas tão infelizes e desmotivadas quanto ela... por que havia feito isso de sua vida?

Correu os olhos mais uma vez pela tela do computador procurando se concentrar no e-mail aberto há quase meia hora, sem resposta alguma. Não conseguia, estava cansada. Cansada não. Cansada era pouco. Estava exausta. 29 anos e agindo como uma velha de quase 70 no fim da vida, sem ter para onde andar, porque não faz nada da vida além de esperar a morte chegar. A náusea voltou e com força. Correu para o banheiro. Ali chorou desesperada por alguns eternos minutos toda frustração que sentia por não ter feito diferente, por se contentar com tão menos que merecia ter na vida. Olhou seus olhos e seu rosto vermelhos no espelho. Encarou-se em silêncio por alguns instantes e suspirou fundo, antes de tomar a decisão mais importante de sua vida nos últimos tempos. Inspirou toda coragem de que necessitava para seguir em frente e foi pisando firme rumo ao RH da empresa.

Estava decidida. Precisava de um alento. Precisava cuidar de si. Precisava seguir em frente. Precisava partir rumo a uma nova vida, da qual jamais teve coragem de assumir. Precisava acabar de uma vez por todas com tudo que lhe fazia mal. Precisava não precisar mais se lamentar e sabia o quanto isso só dependia de si mesma. Bateu na porta e entrou e começou de acabar com algo que jamais devia ter começado. E deu início a nova vida, que havia abandonado anos atrás, lá atrás... enfim.

MAMagni
Enviado por MAMagni em 09/11/2015
Reeditado em 09/11/2015
Código do texto: T5443214
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