A Vendedora
 
Caminhando pelas ruas do Centro, vou a algum lugar? Ao museu? Não me lembro.
Chega até mim o cheiro do Mar, mistura de sal e peixe. Meu vestido é branco, de rendas e bordados. "Olha a Vera, parece uma donzela!", ainda me lembro do que ela disse mas me esqueci do som da sua voz. Ela era a garota mais bonita da sala e gostava de mim. Certa vez ela disse "hoje é meu aniversário, me abraça!", e se jogou nos meus braços como quem dissesse me leva embora daqui, não quero esse curso, não quero esse homem, eu a abracei e sobre os seus cabelos vermelhos vi o namorado olhando para ela de uma maneira que eu não sei dizer mas sei, é exatamente assim que eu olho para ele.

O azul do Mar invade meus pensamentos. Começo a cantar baixinho uma música que fala sobre mar e amar.
De repente sou atalhada por uma vendedora:
- Dentista, senhora? Consulta a preço popular, quinze reais.
Me estende um papelzinho. Iguais a ele há aos montes pelo meio da rua, o vento brincando de fazer propaganda.
 
Sorrio para a moça. "Não, obrigada".
Faz uma linda manhã de sol, pessoas vêm e vão, jovens, idosos, pedintes profissionais, tudo respira vida mas tudo que a vendedora vê são meus dentes separados e imagina que eu esteja louca para uni-los, lógico (na lógica dela), não existe uma pessoa que queira andar por aí sorrindo todos os dentes longe uns dos outros como se estivessem intrigados.
- Temos aparelho ortodôntico, senhora! Paga só a manutenção, trinta e cinco  reais!
Sigo caminhando e sorrindo. "Obrigada"...
- Mas a senhora vai pagar só a manutenção!
Já vou longe, ainda sorrindo porque a combinação do Sol com o cheiro do Mar e os prédios antigos tem esse dom de me arrancar sorrisos e ainda escuto a voz da vendedora, agora gritando:

- Mas a senhora vai pagar só a manutenção, trinta e cinco reais, senhoraaaaa!


 
Srta Vera
Enviado por Srta Vera em 11/11/2015
Reeditado em 11/11/2015
Código do texto: T5444888
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.