A dor que vale mais que a dor

Sinceramente eu não me encaixo nos dias atuais. Nunca me encaixei na verdade. No alto dos meus 15 anos eu vi a explosão do movimento Emotive, a criação dos coloridos, a ascensão do sertanejo universitário e algumas outras coisas. Eu não gostava de nada disso. E continuo não gostando. Naquela época eu ia à escola todos os dias escutando duas músicas que repetiam diversas vezes até completar o trajeto que eu fazia. Caso esteja curioso eram elas “Higway to Hell” do AC/DC e “Swett chield on mine” do Guns and Roses. Sim só essas duas.

O tempo passou e meu preconceito musical foi diminuindo. Meu gosto musical se expandiu, e agora vai desde o vocal incrível de um Bruce Dickinson até a voz doce e incomparável de Tiê. Eu fui me abrindo para mundo e meu gosto, não só o musical, mudou. Diria até que melhorou. Infelizmente para os que gostam, eu nunca consegui gostar de nenhuma daquelas coisas que odiava no ensino médio. Acontece. Mas voltando ao meu raciocínio inicial, dizia eu que, nunca me enquadrei na época em que vivo e isso continua. Temo que minha mente tenha envelhecido muito antes do que deveria acontecer, pois não compreendo as coisas que estão acontecendo.

Duas grandes tragédias se abateram sobre dois lugares distintos do planeta. Uma delas aqui no Brasil. A tragédia em Minas Gerais foi devastadora. Não só o dano ambiental é gigantesco, como, as mortes e os desaparecidos foram um abalo tremendo na vida das pessoas afetadas. Essa tragédia merece nosso respeito.

Outra lástima foram os atentados em Paris. Mortos, pânico e um resultado catastrófico para um país que se encontra em verdadeiro estado de choque. Sem dúvida algo que merece nossa consideração e para aqueles que acreditam, toda oração é bem-vinda. Entretanto, veja que não coloquei o número de mortos ou desaparecidos em nenhuma delas. No fim, qualquer morte é algo intolerável. A vida humana não tem preço.

Infelizmente começou-se uma verdadeira guerra de comentários nas redes sociais que me fizeram pensar desse jeito. Não devo estar bem. Porque, aparentemente, existe uma competição sobre qual dor é maior. Seria a de paris? Afinal de contas foi um atentado terrorista. Não com certeza foi a de Mariana, já que se passou em um país mal governado, injusto e com muita chance de que os responsáveis saiam impunes disso tudo.

Há quem defenda, brigue e até faça aqueles textões sobre um e outro, mas a verdade é que não se pode fazer uma competição sobre isso. A minha dor sempre vai ser maior que a dor do próximo, e se por acaso eu não estiver diretamente envolvido, bom, então eu somente respeito. Só isso. Se puder ajudar, melhor ainda. Ajudo. Mudar a cor da sua foto do perfil para a bandeira de um ou de outro não muda absolutamente nada. A dor é apátrida. Você não precisa escolher sensibilizar-se por um ou outro, sendo daqui ou dali. Você pode sentir por todos. Sendo cristão, muçulmano, judeu, não importa.

Está mais que na hora da gente entender isso. Se você começa uma guerra sobre dor, então você é um tolo. A dor é refém de qualquer guerra. Por isso nesse momento de sofrimento para tantas pessoas, faça um favor a si mesmo: Apenas fique em silencio. É o melhor que você pode fazer.