Um casebre de pau a Pique.

Um Casebre de Pau a Pique

Um velho sentado na porta fumando um cigarro de palha.

Na cozinha um fogão a lenha aceso, uma mesa, uma prateleira com as panelas brilhando, um banquinho e na porta que dá saída para o terreiro uma escada com cinco degraus que leva ao quintal e ao riacho.

No quarto uma cama com um colchão de palha, na parede quatro estacas de madeira onde se pendura as roupas.Da janela se vê a estrada que leva ao arraial.

Esse é o mundo de um casal de idosos, que vivem sozinhos quase que abandonados em seu casebre. Depois de criar os seus filhos com muita dificuldade, esses se foram para a cidade grande em busca de realizar os seus sonhos, que naquele lugar jamais conseguiriam.

Os dois vivem abandonados, mas tem esperança que os seus filhos, Pedro e Joana um dia apareçam para pelo menos enterrá-los. Enquanto isso, os dois tentam manobrar a vida. E Sr Manuel fala pra sua veia:

Ô minha veia, me traz aí um cafezinho? Que é pra mode eu terminar de dá um tragado no cigarrinho. Esse seu café é bão demais sô.

—Ara, ocê qué tudo na mão uai,levanta um cadiquim dessa porta home de Deus,vai ficar com as pernas atrofiada.

— O muié to cansado,cheguei inda gorinha da roça.

—Ah! Ta bão,toma logo esse café e vê se não amola.

—Poxa minha veia,ocê num era assim quando a gente se conheceu,ocê era carinhosa com eu,lembra quando a gente começo a se oiar?

—hi!hi!hi! já faz é muito tempo,que nem lembro mais. Dispois de certa idade a muié qué mais é esquecê,tá doido home!—Qué sabê,eu vô é botar uma broa no forno,porque amanhã bem cedinho vou com ocê pra capina.Não vô ficar aqui sozinha não.Despois que passo essa estrada nova,isso aqui ficou de dá em doido,carro pra mode ninguém botá defeito.

O casebre e um pedacinho de terra foi o que sobrou de uma grande fazenda ali existente, desapropriada pelo governo. Dessa desapropriação eles receberam um valor que em nada se comparava ao lucro que a terra lhes dava. Mas isso não é privilégio do senhor Emanuel. Sabe-se que para se adquirir qualquer pedacinho de terra paga-se uma fortuna,e se essas terras estiverem nos planos do governo em se tratando de desapropriação,o seu valor cai absurdamente.

Estamos passando por isso nesse momento, quando o governo do Rio de Janeiro está desapropriando casas,deixando várias famílias desesperadas por terem que sair do seu habitat que construíram com tanto sacrifícios.A própria Igreja de São José construída no ano de 1920 está em vista de ser desapropriada para dar passagem a Trans olímpica.

Novos tempos! É o progresso dando nova cara as cidades e tirando das pessoas em um ano, o que levaram uma vida toda para construir.

Carminha Morais

Carminha Morais
Enviado por Carminha Morais em 17/11/2015
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