MENINICE


Nasci a terceira filha de uma família de quatro meninas, em um pequeno sítio no interior de São Paulo, perto de Termas de Ibirá. Vivi no campo até os cinco anos e foi uma fase muito feliz da minha infância.

Meu avô era aquele avô típico, que contava histórias para os netos. A maioria eram contos sobrenaturais. Deve ser dele que herdei o gosto pelo mistério, pelas coisas insondáveis.

Ainda me lembro do algodão florindo no campo, do café vermelhinho de maduro, do pé de tamarindo no quintal, dos pés de mexerica, das mangueiras e das jabuticabeiras.

 

Como eu gostava de caçar borboletas! Dava nome a todas elas, conforme a cor e a estampa de suas asas. As mais comuns eram as amarelas e as brancas. Quase não as apanhava porque buscava raridades. Depois de brincar algum tempo com as borboletas, eu as soltava e ficava observando-as saírem voando felizes para a liberdade.

Coisa mais animada era brincar no terreirão, local onde se colocava o café para secar ao sol. Ali ajudava (ou atrapalhava?) meu avô a passar o rastelo nos grãos de café, revolvendo-os, para que secassem por igual. Mas era procurar conchinhas no meio do café o que mais me atraía. Quando minhas irmãs e eu achávamos uma diferente, era uma festa!

Eu também pescava de peneira em um riacho que havia no sítio. Era só pelo prazer da brincadeira,, pois eu nem gostava de comer peixe. Em meio aos lambaris que saltavam quando a peneira era retirada da água, vinha um monte de alevinos alvoroçados. Eram filhotes e a gente os devolvia às águas do riacho. Morria de medo das enguias. Ninguém me tirava da cabeça que eram cobras. Felizmente, a água era tão cristalina que dava para vê-las submersas, o que facilitava minha fuga quando avistasse alguma.

Mais do que tomar leite de vaca extraído diretamente da fonte, o que eu mais gostava era de leite de cabra. Até hoje sinto aquele gosto diferente na boca.

Quando eu estava para completar seis anos, tivemos de nos mudar para a cidade de Elisiário para que minhas irmãs pudessem freqüentar a escola com mais comodidade.

Essa mudança marcou o término de uma época inesquecível da minha vida. Época de sonhos, de fantasias, da mais criativa imaginação. Meu tempo de anjo reinando na Terra, onde as flores brancas do algodão, quando arrebentavam ao sol, pareciam nuvens prateadas enfeitando o céu. Voei para novos caminhos, deixando para trás as minhas mais belas lembranças.




Rev 14/11/2021
06/02/2004