Lágrimas rio doce, só lágrimas...

Lembro da primeira vez que saí de minha cidade, Colatina, para morar em outra, Vitória. Era ainda muito nova, com uns 7 anos de idade, e em feriados vínhamos de volta, na estrada, depois da fazenda da D. Carolina, era a farra:

VAMOS APOSTAR QUEM VÊ O RIO PRIMEIRO????

E ficávamos tentando todos ao mesmo tempo, eu e meus irmãos, ir para o lado direito do carro e grudar a cara no vidro, e de repente, na última curvinha, dizíamos o mais rápido possível: EU VI PRIMEIRO!

A visão era esplendorosa, um enorme rio manso, de talvez mais de um quilômetro de largura, profundo, silencioso, lindíssimo.

Nas cheias, poderoso ao ponto de desalojar centenas de pessoas em 1979 e 2013, mas sempre vigiado nas épocas chuvosas pela população.

Nos períodos das secas formavam-se praias de areias margeando toda a cidade.

Nós, nascidos ou apenas residentes aqui, sempre tivemos orgulho do nosso rio. Ele nos trazia um sentimento bom.

Depois de adulta, quando me perguntavam sobre minha cidade, eu, mostrava fotos que sempre impressionavam pela grandeza do rio.

Quando alguém vinha aqui, sempre lembrava da nossa lagosta de água doce, ou do robalo, enfim, nossas delícias que estavam logo ali, no rio.

Sem pedir a ninguém, fomos escolhidos como o terceiro mais belo por de sol pela Globo, e onde? No rio.

Fizemos manifestações de alegria e de tristeza, e atravessamos o rio em qualquer delas.

Se por algum motivo forte precisamos de atenção, nós fechamos logo a ponte para que os meios de comunicação nos vejam.

Pois é, infelizmente eles estão nos vendo hoje, os meios de comunicação, da forma mais cruel, sem nosso rio.

Nosso lindo rio morreu. E, as lágrimas de todos os que o amam não serão suficientes para ressuscitá-lo.

Acredito que nunca mais poderemos olhar para nosso rio com orgulho, nunca mais poderemos comer suas delícias e ainda nem sabemos se poderemos nadar em suas águas, beber sua alma, nossa água, nossa vida.

Nada irá nos trazer nosso rio de volta.

Não adianta mais fechar a ponte, gritar, multar, lamentar. Só nos restam lágrimas.

Rio Doce, jamais descansaremos em paz, jamais descansaremos.

Cinthya Fraga
Enviado por Cinthya Fraga em 20/11/2015
Código do texto: T5454961
Classificação de conteúdo: seguro