O amor não é o suficiente

Não, meu bem, o amor não basta. Eu sei que não lhe agrada saber disso, mas o amor sozinho não preenche a casa de mobília admirável, não completa a outra metade da laranja, não torna pleno um relacionamento com pessoas apaixonadas. Sozinho ninguém faz o que muitos devem fazer juntos, ainda que haja completude na individualidade. E assim é o amor. Ele não é o suficiente. Não sem temperos adicionais. Do contrário nenhuma relação sobrevive, morre aos descasos, aos poucos.

Um livro que me foi especialmente apresentado dizia que o amor precisa de sorte e depois de empenho. Muito certo, mas não é verdade que só quem é sortudo ama ou é amado. Essa sorte, penso, é diferente. Todo mundo, pelo menos uma vez na vida, encontra o amor por entre as linhas que compõem suas histórias, mas nem todo mundo têm a sorte de vivê-lo com propriedade. Tem gente que não o valoriza, não o reconhece e nem mesmo o percebe. E depois o amor precisa de empenho. Amor, embora sentimento que pareça nascer do âmago do além, não vive apenas de olhares compenetrados e declarações espontâneas. Ele precisa de dedicação. Precisa de um ocasional "precisamos conversar sobre aquela sua atitude que não gostei", de um pedido de desculpa sem estar errado, de uma surpresa sem data especial, de um esforço descomedido para entender os motivos do outro, de uma confiança sólida, de uma iniciativa inesperada e de sacrifícios. Porque, na verdade, o amor precisa mesmo é de sacrifícios. E precisa de doação de ambas as partes, coração aberto e consciência limpa. Precisa de respeito e reciprocidade. Precisa de estímulo e vontade de fazer dar certo. E o certo talvez seja simplesmente uma questão de entender que foi bom enquanto durou. Deu certo enquanto tinha amor.

O amor não é o suficiente, mas certamente é o essencial. O amor tem ramos e sem eles a raiz não se sustenta, a seiva não flui e o cultivo não se torna possível. Daí a raridade de se ver relacionamentos duradouros. Daí a frequência de se ver desistências. Ninguém mais parece se importar em fazer o outro ficar, dar uma boa razão para continuar e tampouco se convencer de que vale a pena insistir, se valer. Em vez disso, as pessoas descartam e substituem uma às outras e, de tempo em tempo, exigindo a troca por alguém melhor. O ciclo é vicioso, mas o amor, este de que escrevo, já está fora da roda faz tempo.

- Mariana Sanches Moraes