Víbora

O clima na República das Bananas é nublado. Não existe a claridade de como funciona a regra do jogo. A sociedade é confusa, as normas existem, contudo são adaptáveis à conveniência do momento em prol ou contra de alguém especificamente. Os problemas relevantes são tidos como insanáveis, porque carrega em sua essência a falência de todo um contexto civilizatório. Cenário de desconstrução, inversão de valores e descaracterização de grupos humanos. Ninho propício para a banana podre - o réptil peçonhento de sangue frio destilar de sua perversidade.

Nosso indivíduo carrega na alma décadas de pensamento obsoleto. Sua maior competência está em contemplar sua própria imagem, melhor dizer da sua invenção de autoimagem. Carrega uma memória falseada, detém uma superficialidade psicótica e age subjugando a todos ou os coagindo via terrorismo. Percorre o caminho do oportunismo. Se porta como combatente caveira, que enfrenta tudo. Entretanto a nada enfrenta. Um analfabeto funcional que não conhece o conceito de honra. Um criminoso cujo núcleo verbal do seu tipo penal é destruir. Atropela qualquer valor ou bem maior em prol do seu pedantismo e presunção absurda. Rompe à lógica. Faz sua morada sobre os fracos. Profere discursos falaciosos que nega, aos desavisados, a sua natureza imunda.

O pedestal do detentor do poder é tão elevado, que das suas alturas só observa a sua própria complexidade laboral. Tudo ao seu redor é substituível, exceto a si mesmo, os demais são tidos de experiência limitada. Trata todos como bananas nanicas, sem capacidade se percepção cognitiva. Sua escola de pensamento é tecnocrata, razão de que seus subalternos equivalem à mera força de trabalho, assim os descarta ou lhes imputa juízo de valores. Sua empáfia é tamanha que quando tem uma ideia, obviamente imbecializada, acende uma luz sobre sua cabeça, reluzindo seus olhos e a alma saltita de orgulho como quem não contasse com a própria astúcia. Torna-se, então, um obstinado.

O caos no bananal é induzido pelo próprio descompasso do meio e firmado na destruição ou autodestruição do melhor, a pessoa de tanto ser pisada e desprezada, acaba contraindo o vício. Câncer que vai silenciosa e sorrateiramente tirando o sentido de realidade. O que carrega bom senso é perseguido, levado a exaustão de um jogo escuso, acaba se desconstruindo e adoecendo para sua própria proteção. Além disso, é apunhalado por certos tipos de bananas. Vitória para a arbitrariedade maligna, que ainda conseguiu forjar um duelo entre os súditos.

Então quando o nível de descompromisso impera vem o dedo inquisitor imputar a culpa no servidor, como se o descaso ou doença e a afronta não tivessem um liame com o seu veneno. Mas há aquele espírito que suporta, permanece maduro. Tenta, em vão, reconstruir os valores perdidos. Crê que pode alterar a ordem e os fatores dos produtos, revertendo à podridão. Apresentar algum conceito de moral e consciência coletiva ao poderoso chefão e sua tropa de elite de inteligência mentecapta. Não entende, o nobre, que com estes todos os embates ideológicos já nascem perdidos, pois eles vivem, respiram, comem e regurgitam unicamente do microuniverso do seu poder.

Essa é a sequência do desgaste humano, do bote da víbora, que chegou ao poder, por sua vontade avassaladora de corromper vidas, com seu joguinho de trocas e benesses e do desejo eloquente de proferir quem manda. Somente quando o cacho de banana amadurecer no sentido de avaliar a conduta discricionária de cada tipo humano ali presente e entender de fato que o importante é a essência. E que o verbo da maioria não é destruir, e sim conduzir – formaremos um grupo uníssono. O comandante, então, marchará pelo desfiladeiro de Marco Licinius Crasso que na ânsia de simplesmente atacar será dizimado pela encruzilhada do próprio ego, cravando no coração da República a faca na bananeira, tal como os eternos ilusionistas da história nos orientam.

Simone Otani
Enviado por Simone Otani em 28/11/2015
Reeditado em 30/11/2015
Código do texto: T5463491
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