Do amor autêntico

Já vi tanto tipo de amor bonito, já ouvi tanto conto de um coração desfalecendo por outro, já assisti tanto filme romântico e já li tanto livro realmente meloso... todos recheados de amores tipificados. Todos amores 10x15, exatamente, para que coubessem naquele porta-retrato comum, que a gente põe exposto onde der vontade... Mas, o amor mais bonito de todos, continua sendo o amor autêntico, que se justifica por ele mesmo, que tem intrínseco em si, a noção de que ele é "um estado de graça", e apesar de ser estado de graça, ainda reconhece a realidade; é aquele tipo de amor que, citando García Márquez, "não é um meio para nada, mas sim o alfa e o ômega. Um fim em si mesmo". Por fim, é o tipo de amor que não é tipo. E também não é regra. E quiçá, um dia, será padrão. É um "opa, com certeza!", quando a pergunta é "você a aceita como sua legítima esposa?"

Não há nada mais bonito do que a força e o olhar brilhante que o amor autêntico desperta naqueles que ele escolhe à dedo. O sorriso instantâneo dentro da alma, que transparece no corpo, quando o outro se achega. A liberdade paradoxal do laço bem dado. A nítida vontade de gritar, para o mundo, um único nome. A realidade dentro de um estado de graça constante, porque a vida pede real sensatez.

Quem ama cuida, luta junto, se apaixona todos os dias pelas manias do outro, que para o resto do mundo são estranhas; quem ama aguenta as crises, porque a vida não é mar de rosas vermelhas e lírios brancos. Quem ama põe na linha, se necessário. Quem ama às vezes precisa ser duro com o outro. Quem ama deixa de viver no próprio coração, e vai fazer morada no coração do outro, se aninha noutra alma que lhe é completamente adorável. Quem ama é "porque sim", depois meio milhão de justificativas frustradas para o amor.

Aos amores autênticos, vida longa! Aos amantes autênticos, um caminhar firme e gerador de excelentes frutos; sabedoria incomum e uma força exemplar. Que hajam dias de muita alegria, muitos momentos de "estado de graça", e constância de paz. Que o próprio Amor os abençoe, ilumine o caminho, quando este estiver escuro demais para seguir, e direcione os pensamentos em tomadas de decisão e situações em que eles se emaranharem... toda a alegria dessa vida, e toda a felicidade intrínseca ao desejo da eternidade de momentos bons e memoráveis.

Porque quem achou um amor um autêntico, renasceu. Para si, e para o resto do mundo. Renasce todos os dias, até o seu último fôlego de vida. Quem achou um amor autêntico, sentiu a alma dançar e o coração estremecer, teve os pensamentos emaranhados por um instante e se encantou até pelo barulho do sapato do outro ao bater no chão. Quem achou para si, sentiu a alma adoçar e a vida colorir, encontrar razão dentro de um par de olhos. Por fim, quem achou para si o amor autêntico, entendeu que, assim como ele, o universo inteiro mora no outro e só pelo outro; entendeu que, assim como ele, o universo inteiro é feito só para o outro.

É que a vida tem dessas coisas. Compensa todas as dificuldades e dores diárias, com gente que nos traz de volta a vontade de viver, com gente que nos devolve a vontade de ficar por alguém, que nos faz sentir a pessoa mais sortuda do mundo, só por contar com ambas as mãos da pessoa que amamos. Gente que nos lembra, inclusive, de respirar.

Débora Cervelatti Oliveira
Enviado por Débora Cervelatti Oliveira em 28/11/2015
Código do texto: T5463951
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