Clair de Lune



 
Há muito era noite naquele solar.
Todas as vozes tinham silenciado, as luzes se apagado e as horas se fundido em um só momento eterno desde que findara a ideia de tempo.
As árvores do bosque, antigas, erguiam seus galhos para os céus como uma súplica e eram consoladas pela luz branca do luar.

Aquela lua... aquela noite... ele...
O essencial tinha ficado congelado nos seus olhos.
Ela caminhava entre as alamedas de flores. O jardim continuava o mesmo, as estátuas não se tinham coberto de limo, as paredes róseas jamais desbotariam.
Ela caminhava ao longo do pátio sem nunca perceber que estava presa àquele momento.
Que o seu corpo há muito tinha baixado à sepultura.
Caminhava em silêncio, apertando as pérolas do colar, sem pensar e sem sentir.
Quando ela chegava ao ponto de saída do auditório para o corredor interno que levava aos pátios ela via os outros caminhando alegres para ver o maracatu, os pró-reitores, o convidado de honra, todos os demais e ele.
Mas ele não ia com os outros. Ele seguia pelo pátio escuro e enluarado, o belo porte, as vestes talares oscilando ao vento levando consigo os olhos dela.
Ela ficava parada olhando angustiada o seu amor afastar-se, sozinho, sumindo dentro da escuridão. Ela queria gritar o seu nome, correr ao encontro dele, acompanhá-lo para onde quer que ele fosse.
Mas aquele voz que a prendera ao chão naquele dia era a mesma, lúcida, interior, "ele não quer que você o acompanhe."

Era preciso vencer a voz. Por isso ela tinha se prendido por vontade própria àquele momento. Por isso não seguia com os outros. Por isso ela persistia.
Um dia a voz não mais calaria seu grito nem reteria seus passos.
Um dia ela haveria de gritar, "Amor!", e ele se voltaria sorrindo, ela correria ao seu encontro e se abraçariam, uniriam as mãos, os dedos entrelaçados e seguiriam, juntos para sempre, aonde quer que ele fosse.
Um dia.
Srta Vera
Enviado por Srta Vera em 29/11/2015
Código do texto: T5464384
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