sobre o ofício do escritor

Sempre gostei de escrever, mas não sei escrever. Digo, sei o beabá, c mais a mais s mais a dá ´casa´ essas junções triviais de letras eu manjo; agora escrever de acordo com o ofício do escritor, nadinha.

Vinha pensando há tempos em escrever um conto cheio de frases prontas e de citações de outros escritores, o problema é que não sabia onde encaixa-las num contexto qualquer, então para começar lembrei que era estupidez não ter esperança, por isso segui em frente.

Seria uma batalha exausta, mas deus ajuda quem se esforça, fiquei novamente envergonhado porque me lembrei de Nabokov escrevendo perfeitamente em inglês, sendo ele russo e eu mal posso construir um parágrafo que ele desmorona como um castelo construído na areia.

Sofro de um imenso vazio, do tamanho de Deus, para um ateu incorrigível estou bem, já mencionei-O duas vezes…por isso que elas, as palavras, não são minhas amigas, afinal elas servem para esconder nossos pensamentos ou para revela-los em sua integridade e meus pensamentos e palavras andam embotados devido à minha pseudossíndrome santaclariana. Mas ainda assim, qualquer um vai lá e escreve qualquer merda, as pessoas deveriam escrever, escrever, escrever e escrever depois queimar tudo e aí sim começar a assinar suas próprias garatujas; as vezes fico tão desapontado de mim mesmo, sei não. Resolvo andar, os poetas sempre andavam para ter ideias, caminho por um gramado, ao fundo muitas árvores, uma brisa de verão sopra leve, recende o manjericão e o jasmim e ponho me em contato com o homem e o lobo que habitam meu ser, cuidando para nenhum devorar-se um ao outro.

Volto à pena, nada parece melhorar, tudo como dantes no castelo de Abrantes, tentei um pouco de conhaque para abrir espaço às novas ideias, mas tudo que consegui não foi nada além de risos e dor de cabeça, cheguei a imaginar hipoteticamente um tiro na cabeça, não pensei mais na hipótese, mas talvez seja uma boa ideia transferir minha .quarenta do estojo no armário para meu bolso, a fim de aproveitar um novo acesso de loucura e autodestruição quando vierem.

Me tornara um monstruoso pentápode! mas como te amava, mulher de meus sonhos, mulher misteriosa que sempre me compreendeu, mesmo sendo desprezível, torpe, brutal, sempre me acolheu. Mesmo quando te deixei foste submissa, amorosamente submissa.

Mas se queremos ser felizes, devemos controlar nossa língua e aquilo que sai de nossa boca pode voltar-se contra nós, acho que estou me expondo demasiado. Se tamanha pretensão me acomete, devo realiza-la com mãos hábeis, roteiro ágil, algumas cenas violentas. Só rindo, diz o lobo da estepe em minha mente, estão me devendo tudo, comida, sexo, dinheiro, preciso cobra-los usando o instinto mais primitivo humano, a violência física; doravante o lobo é quem manda aqui.

Mas como tudo nessa vida é passageiro, eis o homem! Sussurrando dócil com voz mansa que o caminho bom é aquele que sobe. Enfim voltei ao uso de minhas amigas coloridas, topiramato e sertralina e sigo adiante a tentar escrever sobre muitas frases, cheias de significado; devo agradecer à Deus (terceira menção) por ter criado bons escritores, aqui em meu subsolo tomo notas de tudo que lhes sobeja, que lhes caem da mesa; nada está ruim o suficiente que não possa piorar, surge outro obstáculo o de dar nomes às personagens, todos que me vêm à tona parecem me irreal demais, até para uma invenção, por isso plagio nomes já antes utilizado por outros escrevinhadores, assim, tenho meu professor balzaquiano cheio de desejos Humbert Humbert ou meu misantropo intelectual Harry Haller.

Não é fácil escrever, os únicos que escrevem livremente sem precisar de inspiração são os copistas e médiuns da categoria receptivos de espíritos que ditam cartas e estes, os espíritos narradores, não se preocupam em contar uma história tipo roteiro de cinema, assim creio pelo menos (a credulidade toma me por completo).

Desistir não é uma opção, já estive em situações piores do que escrever um conto cheio de enxertos subtraídos de outros autores, para me ajudar ocorreu me nesse instante inspirar me num certo jogo de avelórios, eis o caminho que tomo agora mesmo.

Homem de preto
Enviado por Homem de preto em 29/11/2015
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