Sobre a morte de Bruna

Sartre acertou quando disse: "O inferno são os outros." Pode ter errado em quase tudo, mas o cara entendia a angustia. Complicamos tudo. Desde a infância, passando pela adolescência -o pior inferno, agravada recentemente pela inclusão digital- transpassando anos até a morte. Tudo é complicado. É complicado pelo fato de termos que escolher.

São tantas coisas, meu Deus! Pelo menos não sou existencialista. Não vivo com o desespero da insegurança - mais ou menos, mais ou menos. Imagina se eu fosse: Iria chorar amargurado por não ser uma pedrinha de jardim. Ia chorar mais ainda com os dilemas românticos: Compro ou não? Faço ou não faço? Adeus orgulho. Se eu fosse existencialista com certeza desejaria ser um Nada.

Sartre é para doidos. Que bom que a Bruna não vive mais. Ela morreu. Morreu há três meses. Lembro-me de sua paixão pela natação. O pior de tudo foi saber que ela morreu nas águas. Estava nadando, se divertindo e também se exibindo -todos gostam de fazer uma exibição- quando apareceu uns peixinhos para lhe divertir. Brincaram muito. Ela se mexia pra lá e pra cá. Parecia uma dança muito bem sincronizada com o cardume. O cardume também parecia feliz. Estavam sempre sorrindo, exibindo seus dentes. A dança estava tão sincronizada que ao passo que os peixes sumiram ela foi junto deixando um contraste vermelho na água. A causa da morte eu ainda não sei, mas tenho para mim que foi menstruação exagerada, pois sempre a ouvia dizer: Os bichinhos são nossos amigos.

É brincadeira. A Bruna não morreu assim. Morreu orgulhosa. Era famosa no Instagram - um requisito para ser famosa no Instagram é mostrar o peito, mas ela não mostrou o peito: Fez vídeo tirando a roupa, o que é pior. Sua fama atraiu um pedófilo muito conhecido no país: O Homem do Carro Preto. Sim, Bruna tinha 2 anos. Sua mãe moderna administrava a conta no Instagram. Esse H.C.P ( Homem do Carro Preto) viajou com seu carro verde até a cidade de Bruna, para violentar a pobre garota. Chegando a tal cidade, se arrependeu. Não pelo o que ia fazer; Buracos. Passei a amar os buracos. Buracos salvam vidas, sabiam?

Você pode estar se perguntando: Como Bruna morreu? Tive que criar um contexto para poder contar sua morte sem criar muita expectativa; as pessoas amam um drama. Na verdade, eu nem sei se ela morreu. Vou ligar para a sua mãe e tirar esta dúvida, mas só depois que acabar essa minha avaliação psiquiátrica.

Krabat
Enviado por Krabat em 05/12/2015
Reeditado em 05/12/2015
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