O DONO DA GAIOLA

Já presenciei e me enojei com a as constantes e variadas maldades praticadas a animais, que judiação, quanta insanidade. Dentre a inúmeras e abomináveis maldades praticadas aos bichos, tem uma que me desperta a atenção, o aprisionamento de um pássaro numa minúscula gaiola, um inofensivo ser de asas criado para ser livre, voar, cantar e encantar esse planeta, mas lá de cima, e a todos e não somente a uma pequena plateia de egoístas e ignorantes malvados.

Quando entro numa casa que tem gaiolas com passarinhos, sinto um mal estar danado, uma coisa ruim por dentro e o sentimento de incapacidade é o que mais me corrói, é de cortar o coração ver um pobrezinho desses pagar com a liberdade por um crime que não cometeram, dá uma vontade louca de ficar insano, arrebentar a portinha daqueles viveiros minúsculos e apresentá-los de vez à liberdade, ficaria feliz, mas seria inútil tamanha rebeldia, criaria um problema diplomático, minha vida estaria em risco e isso, não resolveria o problema, pelo contrário, criaria outro, já que o dono dos pássaros libertados, iria atrás de outros e mais outros, numa busca constante de preencher o vazio existencial do seu ego.

Se eu fosse um pássaro livre, que voasse tranquilamente pelos ares, riscando a imensidão celeste, passando por cima de lagos, rios, florestas, cantando alegremente minha liberdade em cima de uma árvore e, de repente, tivesse minha liberdade ceifada, meu mundo acabaria ali, minha vida, deixaria de ser vivida, seria sobrevivência, abreviação da morte, um sofrimento gigantesco, preferia morrer a viver das migalhas lançadas pelo dono, pelo dono da maldita gaiola.

A atitude é de uma ´´pequenez tamanha,`` se é que posso usar esse termo, mas não encontrei outro capaz de externar a profundidade cruel no momento dessa reflexão em que vejo o dono da gaiola como um ser mesquinho, covarde e sem saber, seu egoísmo vicioso consome a si próprio, já que, ao invés de cuidar da própria vida, tratar de outros negócios, viajar, se sociabilizar, se isola num mundo interno, se prende também, para admirar sozinho o canto dos bichinhos, o canto da tristeza, da saudade dos ovinhos que ficaram chocando no ninho, da saudade da fêmea que lhe espera para sempre, o canto se transforma apenas em motivo de satisfação individual do por opção do também aprisionado dono das gaiolas, o carcereiro mais cruel e covarde existente na terra.

GILMAR SANTANA
Enviado por GILMAR SANTANA em 05/12/2015
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