A GUERRA DOS SEXOS

Sempre existiu e sempre irá existir, entre homens e mulheres, a chamada guerra dos sexos. Os homens alegam que são os chefes da família, que as mulheres lhe devem obediência e as mulheres nunca irão se conformar com o fato de que não são donas dos homens.

Essa diferença de conceitos entre ambos é, muitas vezes, levada ao extremo quando se trata de pessoas (masculinas ou femininas) com certo grau de incompreensão e limitação no seu pensar. Já ouvi até amigos meus dizerem que vão mudar de religião, migrando para o Islã como forma de colocar no devido lugar a autoridade superior dos homens sobre as mulheres. Eles alegam que na cultura oriental a mulher está devidamente colocada no seu lugar e chegam até a invocar os preceitos do Talibã, como forma de autenticar o que dizem.

Outros apelam para a História, se reportando a condição da mulher através dos tempos. Dizem, por exemplo, que na Grécia antiga (berço da democracia) a mulher era criada apenas para servir ao homem e gerar prole saudável e que na Assíria as mulheres podiam até ser trocadas por dívidas.

Vários outros não precisam puxar fatos históricos e simplesmente desandam a impor o machismo, dizendo que lugar de mulher é pilotando um fogão e o espaço que elas buscam se limita aos metros quadrados entre a cozinha e o quarto de dormir.

Alguns apelam para a Bíblia, porque, segundo eles, lá está escrito claramente a condição de obediência da mulher com relação ao seu marido.

Pois bem, estava eu a observar as diferenças de opiniões com relação ao assunto (travados entre dois jovens universitários), ou seja, sobre a igualdade dos sexos, quando de repente a jovem debatedora usou das armas mais convincentes para demonstrar o quanto é profundo o abismo entre o aceitar – por parte dos homens – e o não entender – por parte das mulheres. Disse ela (já em tom de desabafo misturado com ironia e um pouco de mágoa):

“- Se a gente se insinua, é uma mulher atirada; se a gente fica na nossa, é uma mulher difícil; se a gente aceita transar no início do relacionamento, é uma mulher fácil; se a gente não quer ainda, está fazendo doce; se a gente impõe limitações no namoro, é autoritária; se concorda com que o namorado diz, é uma lesa sem opinião”.

E continuou no mesmo tom, agora com uma ênfase mais forte ainda:

“- Se a mulher batalha por estudo e profissão, é uma ambiciosa; se não está nem aí para isso, é uma dondoca; se a gente adora falar em política e economia, é uma feminista; se não se liga nesses assuntos, é uma desinformada”.

Deu uma parada, olhou para seu oponente, fez uma cara de malvada e prosseguiu:

“- Se uma mulher corre para matar uma barata, não é feminista; se correr da barata, é uma medrosa; se a gente aceita tudo na cama, é uma vagabunda; se não aceita, é fresca; se a gente ganha menos que o homem, é para ser sustentada; se ganha mais que o homem, é para jogar na cara deles; se a gente adora roupas e cosméticos, é narcisista; se não gosta, é desleixada; se sair mais cedo do trabalho, é folgada; se sair mais tarde, está dando para o seu chefe; se fizer hora extra, é gananciosa”;

Nessa altura do campeonato, havia uma roda em torno dos dois e os aplausos já se faziam presente toda vez que a ilustre concorrente dava uma paradinha estratégica para recarregar as baterias e amolar a língua afiada. Notando que o rapaz apenas acompanhava seu raciocínio, metralhou:

“- Se a mulher gosta de TV, é fútil; se gosta de livros, está dando uma de intelectual; se a gente se chateia com alguma atitude deles, é mimada; se aceita tudo que eles fazem, é submissa; se a gente quer ter quatro filhos, é uma louca inconseqüente; se só quer ter um, é uma egoísta que não tem senso maternal; se a gente gosta de rock, é uma doida chapadeira; se gosta de música romântica, é brega; se gosta de música eletrônica, é porra louca”.

E deu o arremate final na sua locução verbal:

“- Se a gente usa saia curta, é vulgar; se a gente usa saia comprida, é crente puritana; se a gente está branca, eles dizem para a gente pegar uma corsinha; se está bem bronzeada, eles preferem as clarinhas; se a gente faz cenas de ciúmes, é uma neurótica; se não faz, não sabe defender seu amor; se a gente fala mais alto que eles, é uma descontrolada; se a gente fala baixinho, é uma subserviente. E depois dizem que mulher é bicho complicado!”

Depois desse convincente esclarecimento tão bem colocado pela jovem debatedora, o rapaz ficou perplexo e sem ação, procurando, talvez, em seus arquivos algo que pudesse estabelecer novamente uma condição de igualdade no tema. Não encontrou.

Bati palmas, para os dois, pensando em como seria bom que existisse somente – entre homens e mulheres – aquilo que é a única coisa que os atrai e os deixa no mesmo nível: a igualdade do amor.


 

Obs. Imagem da internet

12/11/2006.
Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 30/06/2007
Reeditado em 06/02/2012
Código do texto: T547142
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