FEIJOADA DE IDEIAS

Para os alunos (as) do terceiro ano quatro da escola Michel Antônio Alem.

Ontem foi quinta, consequentemente hoje é sexta e amanhã será sábado, assim caminha a humanidade, dia a pós dia, rumo à existência nua e crua. Este inicio de crônica me parece um tanto besta demais, contudo, é antes um meio para motivar ou mover o cerne das letras presentes no âmago de minha alma. Todavia, como mencionei ontem quinta, na aula de filosofia que ministrei juntamente com meus alunos (as), em uma escola do Estado de São Paulo, conversamos e pensamos a problemática da religião, dentro e fora do âmbito educacional. A pedido de Amanda, aluna meiga e extremamente inteligente, a aula foi sendo desfiada ou de outro modo o tear da existência ganhava luminosidade e contornos de lucidez e transparência, confesso ter sido tomado por um sentimento prazeroso e belo, Amanda soube conduzir, isto é, tear as ideias com respeito e autoridade. Na sala tomada por vinte ou trinta alunos (as) o tema da intolerância religiosa foi sendo esmiuçado, todos imersos ou acomodados em suas cadeiras duras ouviam-na com prazer (pela minha percepção posso estar equivocado, mas creio que não), houve quem com dificuldade participa das aulas, nesta expôs suas ideias e contribuiu para a construção de um mundo harmônico. Vou tentar não repetir o escrito de outras crônicas, pois a intolerância me parece um tema caro para o momento atual. O que significa para Amanda, Taina, Miqueias, Lucas, Stefani, Ana, Renata, Sara, André, Roberzio dentre outros (as) este tema? Não poderei lhes revelar com profundidade visto a subjetividade de cada aluno, melhor dizendo de cada ser humano. Olho para a sala de alunos, para o rosto enigmático de alguns e me salta a ideia desta crônica, que talvez possa ser singela e simplista, por conta de tal escrito não surgir a partir do desejo, mas da necessidade de escrever alguma coisa que possa ser registrado nos anais da história, ou possa ser uma linha de prazer ou desprazer. O importante é a mensagem contida no texto. Com efeito, a aula me sugere um nome à crônica que tu lês neste instante, seu nome: Feijoada de ideias. A feijoada tão consumida pelo povo brasileiro, bem como os gringos do além – mar é comida gostosa e cara, mas não foi sempre assim, a mesma foi fundada pela CASA GRANDE, aquela em que a sinhá mandava jogar o restante da mesma para os escravos na senzala, pelo que me consta, os negros eram submetidos à lavagem dos brancos, comer o restante daquilo que antes fora servido com pompas para seres repugnantes como parte da elite que nos cerca nos dias atuais. Por fim a feijoada só para ilustrar: era algo desprezado, mas agora a mesma podre e medíocre elite, consome esta comida e nem sequer pensa no racismo, mas apenas em suas panças gordas. Como escreveu Cazuza: a burguesia fede. Contudo, vamos ao que interessa: a feijoada é feita a partir de inúmeros ingredientes, rabo de porco, focinho de porco, linguiça, bacon entre outros ingredientes (será que os ingredientes não seriam uma alusão aos podres burgueses?). Ah, não podemos esquecer da caipirinha essa tem de ser servida no curso da degustação. Tomaremos por exemplo a feijoada para falar das religiões, isto é, das ideologias, pois religiões nada mais são que um conjunto de ideias juntadas para beneficio de uma parcela da sociedade, existem religiões interessantes, e outras menos interessantes, existem as que oprimiram e mataram o povo e as bruxas, e aquelas que prometiam a redenção por meio da reforma de Lutero, todavia, esta última, o luteranismo, incorreu no mesmo erro que os católicos, combateram e perseguirão de forma semelhante aos católicos, e hoje ostentam o estandarte de representantes de Deus assim como os católicos. Enfim, não cabe a mim inferir juízo a esta ou aquela religião, pois como escrevemos, elas são ideias e ideias acabam trazendo em si fleches de insanidade. No mundo atual, possuímos uma gama imensa de opções, existem templos pra tudo, para aqueles que creem na existência da morte como principio de liberdade, nas religiões neopentecostais, nas orientais, nas seitas racionalistas e assim vai. No mundo contemporâneo, o homem não será julgado pela falta de oportunidade, isto é, sua fé será exercida desta ou daquela maneira. Lideres religiosos e parlamentares (e nosso Estado é laico) se debruçam nas escrituras sagradas para combater Satã “presente nas matrizes africanas”, por exemplo, a um tempo atrás epiléticos eram entendidos como pessoas possuídas por belzebu, agora os gays são a bola da vez “eles precisariam de um banho de descarrego para retirar Satã de suas vidas”, ponho-me a pensar: será que Satã não estaria um tanto depressivo com tanto asneira? Não faltam opções e pseudos igrejas, a todo ou quase instantaneamente os “iluminados” fundam ali e acola as ditas “igrejas” que em tese levariam o homem aos céus, ou seria aos infernos? A feijoada de crenças ou de ideias a qual o povo brasileiro está exposto é mais uma forma de alienar uma parcela salutar da população, justamente aquelas pessoas sem o mínimo de instrução, isso nos parece ser uma música orquestrada pelas igrejas e o Estado: Alienar para dominar. Enfim, a feijoada esta posta na mesa dos senhores de engenho, senhores detentores de carros como: Lamborghini, Mercedes Benz entre outros carangos, esses “iluminados” justificam suas posses muitas vezes ilícitas as sagradas escrituras: Todo discípulo merece seu sustento. Mas o caso é que: para o sustento dos “iluminados” os menos favorecidos, os analfabetos da pátria educadora são expostos à miséria. Creio que Gil Vicente anteviu este caos religioso e politico, quando escreveu O Alto da Barca do Inferno (só não imaginou que fosse tanto). Em suma, falar de intolerância religiosa é importante e pertinente, se o desejo é eliminar a desigualdade entre as pessoas. Defendemos a cobrança de tributos às religiões, pois se a mesma possui largos e suntuosos palácios, porque cargas d’agua não contribuir com o fisco? Lideres religiosos não são diferentes do povo de bem de nosso país, se o pobre contribuiu porque com os “iluminados” tem de ser diferente? Com efeito, para que isto se torne realidade, a população precisaria mover uma ação popular “contra os iluminados”. A analise final de nosso escrito visa questionar a intolerância religiosa, mas também a intolerância ética e moral, esta última, difícil de ser enfrentada pelos defensores da feijoada de ideias, até quando teremos de suportar a hipocrisia do Estado anti- laico e religioso? Até quando teremos de suportar as vozes que defenderam os senhores e as sinhás da casa grande, até quando, até quando a lavagem cerebral será entendida como vontade de Deus e não como forma de alienação e servidão?

BetoFilo
Enviado por BetoFilo em 06/12/2015
Código do texto: T5471525
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