ILUSÃO EM VENEZA

Veneza é uma cidade ímpar. Não há como descrevê-la. Você tem que singrar os canais com o meio de locomoção mais utilizado na cidade, o vaporetto. Você tem que pisar na Praça São Marcos e apreciar a basílica com seu campanário altivo, sentinela e guardião do panteão do apóstolo de Cristo. Você tem que sentar num bar, a beira de um canal, e apreciar um spritz, uma bebida composta de água mineral com gás, espumante e Campari.

Com menos de trezentos mil habitantes, Veneza é berço de seis papas. É um arquipélago composto por 118 ilhas no Mar Adriático.

Em maio de 2015 estivemos em Veneza, eu e minha mulher, e guardei na memória momentos inesquecíveis. Na Praça famosa, com biscoitos moídos nas mãos, fomos cobertos por dezenas de pombos. Nossa máquina fotográfica registrou tudo.

No segundo dia de nossa estadia, resolvemos ir até a Ilha de Murano apreciar as obras de arte em vidro daquele local. Pegamos um vaporetto na Estação Giglio, que ficava a menos de cem metros de nosso hotel. A embarcação singrava os canais de Veneza desenhando paralelas nas mansas águas. Estava lotada, como sempre. Depois de uns dez minutos de trajeto vagou um lugar e eu, ainda cansado da viagem desde Roma, não titubeei; sentei-me confortavelmente.

Meu sossego não durou muito tempo. Um velhinho ao meu lado me cutucou apontando para um outro senhor que estava em pé indicando que eu devia dar-lhe o lugar. Da forma que consegui, contei ao velhinho que eu já estava com sessenta e oito anos nas costas e que, portanto, não fazia sentido dar lugar. Ele assentiu com a cabeça e eu, satisfeito, pensei: acho que ainda estou bem de aparência. Afinal, alguém pensou que eu não era idoso.

Alegria de velhinho, no entanto, não dura muito tempo. Quando voltei a Curitiba, nem um mês depois, resolvi deixar o carro em casa e fui para o centro da cidade de ônibus. O expresso estava lotado e eu me espremi entre as pessoas para me segurar numa barra e me proteger dos solavancos do busão. Foi então que uma cinquentona se levantou e gentilmente me ofereceu o lugar para eu sentar.

Lá se foram minhas ilusões. Em Veneza, além de sua beleza, parece que lá fico mais jovem.