viciado em pensar

É simplesmente torturante ser um viciado em pensar, divagar em pensamentos que ora desaparecem como fumaça de cigarro no ar.

Passatempo preferido: Pelas manhãs, sentar-se em uma cadeira na varanda de casa, acender um bom cigarro, tomar um café preto, quente e fresco e pensar...pensar até esgotar o kit felicidade: café e cigarros, e logicamente, o tempo.

E ali eu fico, por alguns minutos, observando o comportamento das pombas e dos abutres que sobrevoam o terreno baldio em frente à minha casa. Talvez estejam buscando algum resto de carniça desperdiçada pelo bando de urubus na noite passada. Ou talvez estejam competindo por espaço, por território. Penso que um é a presa e o outro o predador, ou seriam duas presas ou dois predadores?

Enfim, outro dia, me peguei observando uma senhora que mal pele tinha. Osso e osso. Tentava em desatino atravessar a rua, pouquíssima movimentada àquela hora do dia. Tão logo apareceu um cão de rua, ofegante, passou o focinho entre as pernocas da senhora e deu-lhe uma lambidela no pé que o chutou longe. Xingou-o com algumas boas palavras e lá foi ela na tentativa de atravessar a rua. Parecia, de fato, um cacique tentando atravessar o riacho repleto de piramboias e jararacas, um verdadeiro Iguatemi.

Tão logo me veio um sorriso na rima dos lábios. Confesso que me senti sádico e, tentando me desprover da moral, continuei a sorrir e a tragar o cigarro, já no fim.

O Sol estava emitindo raios tão intensos sob o asfalto que a senhora mal enxergava o final da rua. Enfim, não sei que fim deu essa travessia, tampouco se ela conseguira ou não. A verdade é que eu nunca mais vi essa senhora, nem o cão que fora chutado por ela.

Outra verdade é que de tudo que nos causa uma certa dor, como a tortura em pensar, tiramos algo de proveitoso e prazeroso, como as niilistas manhãs que me pego observando coisas e pessoas...