Um Violino


(Para o Custódio)
 
Dentro da noite eterna um violino dialoga com o silêncio.
No enlanguescer da música a tua ausência se encontra com a minha saudade na lembrança das mãos amigas que se entrelaçavam, se acariciavam e permaneciam unidas em silenciosa compreensão. Cada nota suavíssima lembra um olhar mais doce, um demorar-se em acordes castanhos, percorrendo o caminho luminoso até abrir-se em um sorriso onde todas as estrelas se lançavam para consumir-se no fogo dessa contemplação.
Dentro da noite eterna as tuas palavras se calaram. Só um coração colado, sem compreender nada, murmura o teu nome que se eleva pelo espaço na angústia de transpor o pano negro para além da escuridão do céu.
Não há mais céu. Não há mais nada. O universo é um vazio infinito que um dia esteve iluminado pelo brilho dos teus olhos.
Tudo terminou em abandono que não alimenta as ilusões. Estrelas mortas. Constelações atônitas de inexistir. Promessas de supernovas esquecidas pelo chão dos dias em meio ao silêncio das lágrimas que a alma bebe em instantes amargos em busca de saciar a sede do teu rosto.
A alma. Mais uma vez só.
Como queria desfazer-se em éter, voltar àquela fonte que não sabe nomear e do caminho esqueceu-se. Por que tinha se desprendido, por que tinha acreditado mais uma vez no sonho que um dia teve na aurora dos primeiros dias? Por quê? Quem escreveu para ela essa história tão triste?
Não há respostas. Só o teu silêncio. As sementes da esperança foram levadas pelo vento do esquecimento e semeadas ao acaso das inalcançáveis distâncias do teu desamor.
Dentro da noite eterna as cordas do violino são os teus cabelos macios que os meus dedos, à maneira do arco, acariciavam amorosos escrevendo na partitura do tempo uma melodia inexprimível de espera pelos teus passos regressando ao meu caminho.
 

 
 
Srta Vera
Enviado por Srta Vera em 15/12/2015
Reeditado em 10/07/2016
Código do texto: T5480739
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.