Ela se dirigia a ele com o dedo em riste. Disse-lhe toda sorte de impropérios. Canalha, safado, mentiroso, indecente, cretino, mulherengo! Pensa que me engana como faz com as outras? Pensa que me ilude com esses seus versos? Pensa que amolece o meu coração? Não, meu caro, já estou escolada. Não caio mais na tua conversa. Isso é para as meninas, não para mim, uma mulher inteligente e vivida.
Ao longe eu a ouvia. Ela falava num tom exaltado. Quando cheguei mais perto vi que ela se dirigia à estátua do Carlos Drummond de Andrade, que fica em um banco, no calçadão de Copacabana. A mulher era uma louca que transferiu, para o pobre Drummond, toda a raiva que devia ter de algum homem que a havia feito sofrer.
Carlos Drummond de Andrade foi um poeta, contista e cronista brasileiro, considerado por muitos o mais influente poeta brasileiro do século XX. Não merecia ser tratado assim, mas, para aquela mulher, ele era o próprio demônio. Não é a primeira vez que vejo alguém se dirigindo a ele. Muitas vezes numa conversa reservada, como se ele fosse algum psicólogo. Ele ouve tudo sem se manifestar. Melhor pra ele, assim não sofre.
Pobre Drummond, pobre mulher....
Já a estátua de Caymi tem mais sorte. Como está em pé, ninguém para a fim de lhe contar os seus problemas. Ele, no entanto, nunca foi tão fotografado e já não aguenta mais tantos flashes. Deve ter pensado que descansaria em paz, após a morte, mas, pelo visto, ficou até mais famoso.
edina bravo
Enviado por edina bravo em 22/12/2015
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