UMA CRÔNICA SOBRE VOCÊ

Eu estava deitado, quando lembrei do contorno do teu rosto. Engraçado, mas por um instante você me pareceu um estranho. Eu não te conhecia. Quer dizer, te conhecia sim, mas era como se eu não te conhecesse. E essa foi a sensação boa.

O contorno do teu rosto, esquisitamente novo para mim, me fez lembrar do dia em que nos conhecemos, da árvore que serviu de apoio para os nossos corpos bêbados e frágeis. Ah, e calejados. Não os corpos, mas infelizmente os nossos corações.

Enfim, foi apoiado naquela árvore de tronco grande; foi rodeado de tanta gente desconhecida e de alguns amigos ali zombadamente nos observavam; foi naquela festa; foi naquela noite, foi... o beijo foi. Foi errado acertando, foi um sem querer querendo, foi um "Você não vai cuidar de mim...por favor, cuida de mim?", foi também como resposta um "Claro que sim. Eu cuido de você" e foi o beijo certo.

Mas não era isso em si que eu queria falar. Voltando. Só uma pergunta, lembranças e sensações são crônicas? Espero que eu esteja escrevendo uma crônica sobre você.

Bem, voltando mais uma vez...o contorno do teu rosto afilado igual ao meu tinha uma barba que significava e a imagem das minhas mãos suspensas e sem corpo a tocava e assim, o contorno - barbado - e - significativo - do - teu - rosto, agora ganhava dois olhos fechados iguais aos homens afrodisíacos que eu desenho.

Essa imagem me causou um bem, uma sensação de sutil felicidade que ia quase parindo uma fina e aquariana lágrima.

Agora sim, acho que estou escrevendo uma crônica.

Deitado no sofá, pensei em ligar para você, que devia estar inquietamente vivo e a uma estrada, clima e idade de distância de mim.

Não queria ligar para dizer que te amo, pois isso é do seu conhecimento. Mas eu deveria te ligar para dizer o que estava acontecendo no sofá cinza da sala, e que estou muito feliz por ter te encontrado, e que essa felicidade "nostempodecansaço" faz um beeeeeem (assim, devagar e sereno), e que eu queria (já que estou escrevendo) que você lesse essa crônica sobre você, como se fosse a primeira vez que eu estivesse te dizendo tudo isso, e que o seu rosto ainda é estrangeiro no meu rosto, e que há muitos "quês" nessa crônica, e que eu preciso terminar, e que antes de voltar para o que eu estava fazendo no sofá (lendo, para deixar claro), eu preciso dizer obrigado pelo tudo e desculpa pelo nada.

Caio Balaio
Enviado por Caio Balaio em 22/12/2015
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