ESCREVER PARA NÃO MORRER...
- Pai, por que tu escreves tanto?
- Para não morrer!
- Mas tu estás vivo.
- Há muitos tipos de morte, filha! Estar vivo não é o mesmo que viver.
- E o que é viver?
- É quando temos consciência de que existimos.
- Então escreves mesmo é para existir? É isso?
- Escrevo para procurar-me nos tantos que preciso que existam.
- E já se encontrou num desses que procuras tanto?
- Não, mas já me perdi bastante.
- Ué?! Escritores se perdem escrevendo?
- Não sou escritor, filha. Mas se fosse e me encontrasse, não teria sentido em escrever. Não haveria busca.
- Como assim?
- É que não dá para se perder achando-se tanto. Existir é conservar-se buscando, pois assim como um texto, nenhum de nós jamais fica pronto, sempre há o que melhorar.
- Então morrer é estar pronto?
- Não, filha. Morrer é achar-se pronto.