Passing by

A primeira vez que o vi, não olhei duas vezes. Era o tipo comum: calça jeans, camiseta de banda de rock, tenis surrados. Dezenas de caras assim cruzavam comigo todos os dias. Mas algo me fez virar a cabeça pra trás e olhar novamente. E eu olhei. E vi que, ao contrário do que eu pensava, ele fugia completamente dos estereótipos que eu já conhecia.

Meus olhos flagraram sua silhueta recostada em um monumento pós moderno da praça central. Sua cabeça pendia ligeiramente para o lado, como que para sentir o vento. Os olhos, semicerrados, tentavam distinguir a paisagem seca e persistente. Tentando caminhar de maneira mais leve possível, eu me aproximava dele. À medida que chegava mais perto, algo além de sua imagem, perturbava meus sentidos. Misturado ao cheiro de poeira e asfalto da avenida, um perfume aquoso, fresco, se fez sentir. Quanto mais me aproximava, a calma que me envolvia era quase uma mágica. Tão mágica que, envolvida naquele enlevo etéreo, quase caí no chão. Foi quando ele me viu. Embaraçada como eu estava, ele simplesmente me olhou nos olhos e sorriu, enquanto estendia a mão direita na minha direção.