Serão nossos pais, preguiçosos?

É público e notório que nossos filhos nascem cheios de defeitos. Nós nascemos assim, mas se tivéssemos um aparelho que medisse adjetivos, certamente ele constataria que hoje somamos mais qualidades que defeitos, em sua maioria.

Mas o que provoca em nós essa lapidação do caráter? Ou melhor, a quem compete a responsabilidade de formação do caráter de um ser? Sim... nossos pais. Cabe ao pai e à mãe, ao receber um filho nos braços, enche-lo de carinho e de limites.

Sim... o ser humano nasce cheio de vontades e de quereres... e são essas vontades e auto conceitos deturpados que são intitulados defeitos. O filho simplesmente quer que todas as suas vontades sejam satisfeitas, tudo a tempo e a hora e da melhor qualidade. Não importa quem são os provedores, se eles têm condições de arcar com essa responsabilidade, com tantas exigências.

Mas nossos pais usavam um método muito interessante para impor limites aos filhos. Eles falavam assim, e as vezes ainda falam “Se você fizer isso (em tom ameaçador) eu vou te levar no posto pra enfermeira te dar injeção...” Como resultado, frequentemente assisto cenas humilhantes de adultos de todas as idades, quase dessorando ao aguardar a administração de um imunobiológico. Sim... uma pequena dose de vacina administrada intra muscular ou subcutânea. E nem adianta a gente falar que a agulha é pequena e que só vai arder um pouquinho...

O sofrimento da expectativa de ser punido é tão grande que o sujeito, ou sujeita, chega ao cúmulo de fechar os olhos e retesar o corpo, quando não afasta o braço, involuntariamente, quando nos aproximamos com a agulha em punho.

Há...! Dirá o leitor... mas o que tem isso? Vacina dói mesmo... Sim... não questiono isso, mas e o preparo do ser humano para enfrentar as adversidades da vida? Se é só uma vacina, tudo bem... mas e quando o candidato é uma gestante ou um idoso na fase das morbidades? Ai entra a vida ensinando o que os pais não puderam fazer... eu particularmente gosto muito de um ditado popular: “O que não aprende com amor, aprende com a dor...”

Mas graças a Deus hoje assisto com certa frequência pais mais jovens que eu (e a maioria se encontra nessa condição) que sentam o filho no colo para esperar a bendita proteção e vão falando assim com ele (em tom amoroso, mas firme) enquanto eu descasco a seringa e embebedo o algodão no álcool.

“ Meu filho(a)... agora você vai tomar uma vacina que é pro seu bem, pra você não ficar doente. Mas a mamãe (ou o papai, vejam só) vai te segurar com muito carinho e vai doer só um pouquinho” E eu digo do meu lado da bancada (intimamente) “Senhor Jesus, obrigada, finalmente...” E me viro pro genitor, e claro, externo minha admiração: “Muito bem, mamãe, papai... parabéns... o bebê precisa entender, desde cedo, quem é que manda na relação de vocês... Vai dar muito trabalho, mas se ele crescer achando que é ele que manda, quando ele ultrapassar a sua altura...”

Essas crianças aprenderão a respeitar seus pais e não somente temê-los. Aprenderão que a vida é dura, mas que, com segurança, conseguiremos enfrentá-la. Aprenderão que o medo é muito pior que a adversidade. Serão mais seguros e confiantes consigo mesmos. Enfim, sofrerão menos, desnecessariamente. E serão pais muito melhores...

Lucilia Martins
Enviado por Lucilia Martins em 05/02/2016
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