ONDE ESTÁ O CORDEIRO?

“No dia seguinte João viu a Jesus que vinha para ele, e disse:

eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo!” João 1:29.

Várias vezes já me peguei tentando viver essa cena – e não consigo ir até o final, tão dramática eu a acho: Isaque caminhando ao lado do pai, certo de que está indo, como de costume, para mais um holocausto. Qual não foi sua apreensão quando percebeu a suposta gafe, e tentou alertar o pai: “(...) Meu pai, eis o fogo e a lenha, mas onde está o cordeiro para o holocausto?” (Gn 22: 7). O pai, tentando tranquilizar o jovem – embora com o próprio coração em frangalhos –, afirma: “Deus proverá para si o cordeiro para o holocausto, meu filho” (v. 8) – “ainda bem”, deve ter suspirado o jovem.

O que teria sido de Isaque se a palavra do pai não tivesse se cumprido? Aliás, o que teria sido de nós se Deus não tivesse provido o Cordeiro para o maior e mais significativo de todos os holocaustos? Já parou pra pensar?

A história da provação de Abraão é emblemática e, sem dúvida, lembrada (e recontada) por milhões de pessoas todos os dias ao redor do mundo; porém é quando, no mundo cristão, se comemora a páscoa, que, pra mim, ela tem maior significância.

O tempo passou. Nós, do Brasil, estamos, tanto cronológica quanto geograficamente, muito distante de Isaque e Abraão; no entanto, a despeito de tantas luzes, tanta coisa linda (principalmente nessa época) que o gênio humano foi capaz de inventar e transformar, como um nó na garganta, me vem a mesma pergunta: “onde está o Cordeiro para o holocausto?”

Aí, me vem à mente um pregador excepcional, com uma frase peremptória e de efeito arrebatador. Diz ele, com relativa serenidade e absoluta firmeza: “(...) eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo!” João 1:29.

João é o evangelista que narra os feitos miraculosos mais extraordinários de Jesus. Pra mim, no entanto, se ele tivesse narrado apenas esse episódio de seu xará bastava, seria suficiente para ter – como tem – o nome entre os quatro grandes narradores da vida e ministério do Grande Mestre. Afinal de contas, o que seria de nós se ele tivesse nos apresentado a lenha e o fogo, mas não nos mostrasse o Cordeiro para o holocausto?

Confesso que, longe de querer julgar quem quer que seja, fico um pouco desapontado quando vejo tanta empolgação em algumas manifestações de louvor – seja cantado ou falado –, muito clamor por fogo...muita lenha...muito doutrinamento, muitas regras, muitos rituais... mas eu não consigo ver onde está o Cordeiro para o holocausto.

Pelo menos uma certeza na vida eu tenho: sou um grande pecador e, pior, em mim e em qualquer outro ser humano não encontro nada que possa reverter tal condição. Sem dúvida, por isso é que gosto tanto da objetividade de João, o Batista. Ele não faz rodeio, vai direto ao ponto: “eis o Cordeiro que tira o pecado do mundo”. Ele poderia ter dito, por exemplo: “eis o cordeiro que cura enfermos”, “eis o cordeiro que alimenta famintos” ou “eis o cordeiro que ressuscita mortos”, “que dá vista aos cegos, faz coxo andar, alivia a dor... ou ainda o que traz prosperidade”, mas ele preferiu ir ao ponto crucial, aquele para o qual não há outra saída senão o Cordeiro de Deus oferecido em holocausto, a oferta ímpar, o holocausto perfeito.

Que nesta Páscoa – e em todos os dias de nossa vida – ainda que nos venha faltar o brilho dos enfeites, a delicadeza dos presentes ou, ainda, quem sabe, o abraço de entes que amamos e não estarão conosco... que nos falte a lenha, o fogo ou o que quer que seja, mas que não nos falte o Cordeiro para o holocausto.

Que Jesus, o Cordeiro imaculado, o Unigênito de Deus seja o nosso principal presente nesta Páscoa e que queiramos, nessa simbiose espiritual, nos doarmos a Ele como seu principal presente também!

Feliz Páscoa!