MISTÉRIO DAS LÁGRIMAS

MISTÉRIO DAS LÁGRIMAS

Desconheço se a ciência já estudou sobre as lágrimas e o fenômeno de sua provocação nas espécies, comprovadamente no reino animal e especialmente no homem. Sim, porque já testemunhei animálias verter lágrimas pela morte de outras. Por sinal aparentando maior sentimento devido seus caracteres instintivos. É possível que os botânicos já tenham observado o fenômeno também na flora.

No meu livro, Poesias de um Quarta Idade, (nele dediquei uma poesia às lágrimas) assim me classificando porque a mídia publicitária achou por bem dividir nossa idade por percentual, citando nominalmente, Terceira Idade, numa operação aritmética errada porque percentagem significa divisão por cem e como ela foi dividida não condiz porque 65 anos como a lei determinou, não é a terceira parte de cem.

Ora, como já ultrapassei três quartos da idade, me considero componente da Quarta Idade, dividindo-a matematicamente. Muito embora, a ciência proceda a divisão dos estágios da vida humana diferentemente, ou seja, primeira idade, 7 anos, segunda (adolescência) 14 anos, juventude 21 anos, adulta acima desta. Concluo que o termo Terceira Idade é discriminatório porque foi inspirado na qualificação que a ONU dá a paises pobres ou subdesenvolvidos, ou Terceiro Mundo.

Aliás, o merchanding depois descobriu a gafe e, para amenizar, passou a qualificar os velhos ou idosos, de Boa Idade, saindo a emenda pior do que o soneto, pelo menos para mim. Apesar da elevada idade, não sou tão ingênuo para cair na esparrela publicitária, considero que vida é vida e a decrepitude não a altera. Decrepitude jamais poderá ser considerada uma boa idade. Não quero contestar ou blasfemar contra a lei divina, mas particularmente, creio que houve, por Deus, uma punição exagerada, nesse sentido. Também diferençar os machos com pêlos pelo corpo, além de incômodos nos enfeia e dá trabalho de raspar certas partes. Perdão, vamos deixar assuntos esotéricos para lá.

Enfronhado no propósito de descobrir o segredo das lágrimas, lembrei-me que o maior provocador delas é a sublime emoção do amor. Fiz uma pesquisa. Encontrei, sem muita dificuldade, cerca de mil definições, a ponto de “editar” um dicionário do Amor. Ó Deus, por que o sentimento tão edificante que impera no nosso ego seja tão complicado? Qual a razão do Amor conjugar com Dor e do seu caráter nos fazer explodir em lágrimas?

Realmente, gostaria de saber qual a ciência que trata deste assunto para descobrir se ela já chegou à alguma conclusão.

Toda essa especulação surgiu por um acontecimento corriqueiro na vida do pobre, principalmente nesta época do Apagão do FHC. Assisti numa reportagem televisiva, uma consumidora de energia elétrica, vertendo copiosas lágrimas porque não podia pagar a conta de luz. E mais desesperada se lamuriava da previsão da energia elétrica depois de cortada ela ainda ser obrigada a pagar multa e sobre-taxa devido ao apagão do senhor FHC que não produziu energia elétrica suficiente para ela passar ferro em roupa e ganhar o sustento da família e por fazê-lo, haver sido enquadrada pela “lei da economia”.

Uma situação inusitada. Ó Deus, que país continental é este e com tão imenso manancial d’ água que não produz energia elétrica suficiente para garantir a seu povo a tranqüilidade de trabalhar? Será punição ou houve também um cochilo na geração da parte demográfica?

Perdão, perdão Senhor Pai, hoje estou pecaminoso. Portanto, vou me cingir a pesquisar os nomes das lágrimas:

De imediato, concluiu que aquela consumidora estava criando um novo qualificativo de lágrimas: Lágrimas “ apagão”. Outros conhecidos: Lágrimas de amor, lágrimas de alegria, lágrimas de tristeza, lágrima de ódio, lágrima de dor, lágrima de saudade, lágrima de esperança, lágrima de comoção, lágrima de emoção, lágrima de pingo de qualquer coisa, lágrima por ânsia, lágrimas nos olhos, lágrima como expressão artística, lágrima hipotética, lágrima que escorre pelas faces, lágrima que banha, lágrima vertida pelo canal lacrimal, lágrima da árvore, lágrima de pequena poção, lágrima falsa, lágrima por hipocondria, mar de lágrimas, rio de lágrimas, vale de lágrimas, lágrima que cai, lágrima de cisco no olho, lágrimas da manhã, lágrimas da noite, da aurora, orvalho, nas expressões dos poetas, etc. e assim por diante, porém nesta época, muito cépticos, assistimos nas faces dos membros do governo, caudalosas lágrimas de crocodilo, além das lágrimas painel dos senadores, realmente dolorosas para o ego da classe política tão ciosa de suas lágrimas éticas.

Escrevi esta crônica na época do “apagão” do governo de FHC. Lembrei-me de melhorar o “dicionário de lágrimas” após assistir o senador Roriz verter copiosas e dolorosas lágrimas porque, numa “ação indiscreta e para alguns juristas, inconstitucional”, a PF o descobriu distribuindo, num típico “ato de caridade”, dois milhões de reais para alguns felizardos.

Qual a classificação gramatical adequada a tais lágrimas? Lágrimas de bolão, lágrimas de corrupção? Acho que fica melhor o adjetivo de “lágrimas de ladrão”. Alguém sugere outro?

Iran Di Valencia
Enviado por Iran Di Valencia em 06/07/2007
Reeditado em 06/07/2007
Código do texto: T554023