CARNAVAL NO BRAZIU É O ANO INTEIRO (EC)

Não tenho propriamente aversão ao Carnaval. Feriados serão sempre bem vindos. O problema são os carnavalescos.

Na infância assisti, em TV preto e branco, concursos de fantasia invariavelmente vencidos por Clóvis Bornay, que completaria 100 anos em 2016. Três vezes fui “in loco” a desfile de escolas de samba – uma vez na Av. São João, outra na Av. Tiradentes e a terceira vez no Sambódromo do Anhembi. Em algumas noites insones, trechos de desfiles muito coloridos, carros alegóricos e seus destaques escondendo as “vergonhas” dentro de um band-aid, também chamado de tapa-sexo.

Em Sampa, este ano, ocorreu um fato inusitado: “A modelo Ju Isen, considerada musa das recentes manifestações contra o governo federal e destaque da Unidos do Peruche, foi expulsa da avenida por despir parte de sua fantasia, em protesto após ser impedida pela escola de usar tapa-sexo com a imagem da presidente Dilma Rousseff”. (fonte Uol)

Atrevo-me a dizer que o uso de tal “modelito” de tapa-sexo faria mais efeito que cinto de castidade ou métodos anticoncepcionais.

Carnaval, ora o Carná!...

Quem na juventude não tem seus ímpetos e surtos de idiotia?

Gostar de carnaval assemelha-se a acreditar que o comunismo é bom, que o PT iria mudar o “braziu”, que Luigi Ignatius será canonizado, et coetera similares.

Esses desvios de comportamento são admissíveis na adolescência, na primeira fase da idade adulta, mas ultrapassada a barreira dos trinta, “hominis e feminis sapiens” portadores de tais vícios são merecedores de avaliação psiquiátrica.

Tenho, ainda, motivo forte para desgostar do Carnaval.

O carnaval tem sua parcela de culpa em minha surdez.

Domingo de Carnaval de 1997.

Sobreveio-me a surdez súbita e a Dra. Paula, médica “otorrino” que me atendeu, depois de perguntar-me se eu não tinha ido a algum baile de carnaval, afirmou que eu precisava de uma lavagem auditiva, mas ela “não podia fazer” no Pronto Socorro.

Na quarta-feira gorda, quando consegui uma consulta ambulatorial, era muito tarde. Deveria ter sido internado e medicado de imediato e internado.

Lá se foi minha audição.

O mais chato do fato, logo após o zumbido cerebral permanente até hoje e a perda unilateral da audição, era ter que “escutar” outras pessoas perguntando, detrás daquele sorrisinho irônico se eu não tinha mesmo passado a noite num ensurdecedor baile de Carnaval.

Não! Não tinha...

De lado o problema pessoal, as atividades momescas (Nestes tempos de obesidade coletiva ainda existem Reis Momos?) causam mais males que benefícios.

Exposição a som de 90db danifica as células auditivas em quatro horas.

Talvez por isso o som dos trios elétrico atinja 120 ou mais decibéis.

Quem está perto já deve estar surdo ou calibrado em estado letárgico. Quem esteja a quilômetros de distância, tentando descansar ou fazendo qualquer outra coisa, que o suporte.

“Eu quero é botar meu bloco na rua” cantou o falecido compositor Sérgio Sampaio

“A Praça Castro Alves é do povo”, cantava o tropicalista Caetano.

Analisando os inconvenientes do xixi no muro de d. Eva, os preservativos no jardim do Sr. Adão – quem mora na Vila Madalena sabe o que é isso -, o som infernal incomodando quem está parado no trânsito a caminho de algum compromisso mais ameno, uno as frases e desejo:

“Que os foliões dos blocos de rua de São Paulo sigam os trios elétricos. Rumem à Via Dutra, cruzem a ponte Rio-Niterói, arrastem suas sandálias pela BR116, cheguem felizes a Salvador e fiquem definitivamente na Praça Castro Alves”.

Pronto!

Com esta solução prática para o tríduo de cinco semanas “pré” e pós Carnaval, passo a preocupar-me com os outros “carnavais”, esquecidos durante a folia.

“Carnavais” a desfilar repetidamente nas manchetes da imprensa, tendo como destaques políticos, que tentam, sem-vergonhas, esconder seu locupletar-se, o desvio dinheiro público. Aos arquibaldos e geraldinos, fantasiados com seus narizes vermelhos, resta cantar e popularizar o Sr. Newton.

Vamos lá, comunidade!

Comigo! Em ritmo de Marchinha dos anos dourados... soltem a voz:

“Ai! Meu Deus! Me dei mal... Bateu na minha porta o japonês da Federal”.

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Este texto faz parte do Exercício Criativo - Outros Carnavais

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Pedro Galuchi
Enviado por Pedro Galuchi em 15/02/2016
Reeditado em 15/02/2016
Código do texto: T5544173
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