NETOS

Os seus passinhos incertos, já tem lugar certo para ir. Assim que avista nossa casa (que fica há dois quarteirões da dele) ele aponta seu dedinho, indicando que é ali que quer ir. Com apenas um ano e quatro meses de vida, nosso netinho já se afeiçou a nós, e claro, nós a ele.
Aprendeu a bater com a mão na porta de entrada da nossa casa, e adora ouvir o som que ela faz, na certa para ele o som é mágico. E quando abro a porta, ele abre um sorriso que mostra uma fileira de dentes branquinhos. Nessa hora, tenho a certeza de que nada mais preciso para que meu dia seja feliz.

Assim que entra, ele nem sabe onde vai mexer primeiro. Ele percorre com olhar deslumbrado como se visse todo aquele ambiente, pela primeira vez, e vai para a arte que mais gosta de fazer, abrir as gavetas dos armários e tirar tudo que há dentro.
Ja aprendeu onde eu guardo os biscoitinhos integrais que faço para ele. E com o dedinho aponta, pedindo um.
Adora os cães, deita-se sobre o Moke, puxa as orelhas do Marley, e abraça com carinho a Lola.
Se o avô está em casa, ah, não tem pra mais ninguém. Sem dúvida ele o elegeu como o membro preferido da família. O colinho do vovô tem doce pra ele.

Percebo o quanto de memória afetiva nosso netinho com menos de um ano e meio, já está arquivando em sua alma. E torço para que o "Dono da Vida" nos deixe (a mim e ao meu marido) ficar mais algum tempo por aqui, para vê-lo crescer, e ao nosso outro amado netinho, que mora em outro País. Torço para deixar dentro dos corações deles, boas lembranças, caras recordações, como as que eu guardei, dos meus queridos avós.

Quando quero adoçar meu dia, recordo-me dos meus avós.
São lembranças que avivam o amor que recebi deles. Em gestos, eles externavam o extremado carinho, que sentiam por mim. Citando apenas um: Quando acidentei de maneira grave meu tornozelo na garupa da bicicleta do meu tio, quase perdi parte do pé. Foram preciso além de dezenas de pontos, uma serie de curativos, que se estenderam por semanas à fio, esses curativos eram feito pelo único farmacetico, o Sr. Vitor, na também única farmácia, que havia em nossa vila. E lá, todas as manhãs a me esperar na porta da farmácia estava minha vó Assunta. Ela trazia no bolso do avental um lanchinho de pão com ovo frito, embrulhado em papel de pão. 
Eu comia com tanta vontade aquele lanche delicioso, creio que havia tantas pitadas de carinho e amor, que o pão e o ovo ganhavam um gosto especial, que me fazia esquecer das dores do curativo.

Certa vez, já no final da vida da minha vó Assunta, tive a oportunidade de contar à ela, o quanto aquele pão com ovo, representou para mim, e que até agora, eu ainda podia fechar os olhos e sentir o sabor delicioso dele. 
Ela com toda sua simplicidade me falou: "Mas, Leninha, era só um pão com ovo, como pode ter deixado em você tantas boas lembranças?"
Contei à ela, que muito mais que o simples e apetitoso lanchinho, era  o gesto de puro carinho que minha memória guardou.
Minha vó Assunta estava sempre ocupada à volta do seu fogão à lenha, preparando as refeições de sua prole imensa. Mesmo assim, ela parava tudo, e vinha ali, na porta da farmácia me esperar, trazendo dentro do avetal, o lanche, e no coração um amor imenso. Essa cena ficou registrada em minha alma.

Tenho tantas lembranças especiais de meus avós, que um livro seria pouco pra contar, e desejo muito, deixar ao menos algumas boas recordações para os meus dois amados netinhos, nem que o número delas caiba apenas num bilhete, já morrerei feliz.



(Imagem:Lenapena)

 
Lenapena
Enviado por Lenapena em 23/02/2016
Reeditado em 23/02/2016
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