O DOGMA DA EXISTÊNCIA
Negar a existência de Deus, a princípio, parece arroubo de um pensador que já não tem mais o que pensar. Nem digo que seja ateísmo, pois, o termo em si é carregado de metáfora e preconceito.
O fato de Deus não existir, não nos deixa nem um pouco a mercê do acaso. A inexistência de Deus é por si só uma “Revelação Divina”!
Apesar de ser um contrassenso, o fato quando analisado a partir da razão sempre encontrará dois caminhos: a razão espiritual e a razão material.
Estas razões são vias, embora contraditórias, que no final apresentam questionamentos semelhantes: De onde vem o átomo? Vem de Deus. De onde veio Deus? ...
De acordo com o enfoque, mergulharemos num vazio de retóricas.
São estas lacunas que constituem a argamassa e o cimento para dilações intermináveis carregadas de má intencionalidade. (Falo das religiões).
A questão do Deus Universal é tão inócua que, muitas vezes me pergunto como passei tantos anos da minha vida biológica apegado a um Ser Imaginário tão grande e distante.
Penso que, se fui capaz de criar este desconhecido para que ele me ampare quando assim eu desejar é porque tenho um grande valor como ser pensante. Arrisco-me a dizer que sou um pequeno Deus. Aliás, todos nós somos pequenos deuses...
Sempre nos apequenamos diante daquilo que nós mesmos criamos. Isto é um devaneio humano perfeitamente aceitável. E porque não afirmar que também seja um exagero de humildade.
“As coisas existem porque percebemos que elas existem, senão de que outras maneiras poderiam discorrer sobre o que se observa e qual outro ser pensante poderia fazer isto?”
Sim, Deus não existe!
Entretanto, a Ideia de Deus é viável. É sensato compartilhar com isto até descobrirmos a nossa real potencialidade. E aí sim tudo fará sentido e começará a ficar claro na nossa mente.
Esta Ideia de Deus foi a responsável por todo este alvoroço milenar e, que não raramente, causou na humanidade muitos infortúnios.
O glamour das mitologias acabou. Acabou também o conjunto de deuses que comandavam os fenômenos. Tudo bem apropriado para uma civilização pragmática.
Talvez estejamos errados em erradicar o Deus dos Ventos, dos Mares, do Ar, da Colheita, da Justiça, etc. A simples substituição por um único Deus, não deu certo. As coisas só pioraram!
Estamos cometendo os mesmos erros quando atribuímos outras funções aos nossos deuses e deusas menores.
Quando pedimos a proteção de Iemanjá, esquecemos que nesta dinâmica de criações mentais do ser humano, ela comanda as águas dos mares, e que deveria por óbvio proteger os navegadores, pescadores, viajantes e afins.
Pedimos proteção para Santa Luzia para qualquer coisa, quando na verdade esta é a protetora dos cegos.
Acendemos incenso para o Grande Buda, pedindo riqueza, quando este pregava o contrário...
Visitamos uma Igreja ricamente decorada que prega o amor de Cristo pelos humildes, numa contradição ofensiva.
Diante da opulência Católica, surge um protesto evangélico, que seria para ser o contraditório, mas não. Foram edificados dois impérios econômicos de fazer inveja, o Protestantismo e recentemente a Igreja Evangélica.
Sem mencionar as grandes religiões do mundo que pregam a intolerância.
E o contrário, o Diabo?
Bem, nessa linha de raciocínio, esta é mais uma das nossas criações bizarras que não possui aplicação prática no nosso viver físico. Esta é uma dualidade inventada pela mente humana que tem mais de alienante do que real existência.
Aquela afirmação: “Ser ou não ser, eis a questão” diz bem da nossa loucura filosófica, bem humana, é claro. Nesta histeria coletiva não poderia deixar de ter chegado ao “Deus”(o bem na sua melhor versão).
Criamos o Universo paralelo, como se a parte invisível do próprio não fizesse parte do mesmo.
Criamos a antimatéria, ou conjecturamos, como se esta não fosse uma peculiaridade da própria.
Criamos, ou “constatamos”, o antipróton, antielétron, etc.
Imaginamos o repouso e o movimento, como se o repouso num Universo dinâmico e em expansão pudesse existir. O repouso sempre é relativo, nunca absoluto, faz parte da dinâmica da Criação.
Talvez a treva absoluta e a luz sejam exceções, pelo menos na aparência visual. Somos nós que determinamos as suas existências, e, neste caso ainda poderemos estar enganados...
O cego nato constrói na sua mente um mundo particular de imagens baseadas nos outros sentidos. Mesmo não percebendo a luz que nós percebemos, ele não está nas “trevas”.
Para nós a luz é apenas um elemento que nos ajuda a perceber a presença do mundo físico.
Neste cadinho de criações, o bem e o mal são subjetividades também maleáveis.
Sérgio Clos