O discurso do jovem bêbado

Surpreendo-me com a vida às vezes. De forma tão peculiar, ela nos apresenta experiências extremamente agradáveis e inusitadamente satisfatórias, como, ficar bêbado em um fim de semana e discutir com outras pessoas bêbadas.

Quando falo de discussão não me refiro a algo violento, muito pelo contrário, por mais exaltada que fosse nossa conversa, as duas da manhã, ainda assim eram apenas opiniões diferentes, divergindo sobre vários assuntos. E eu deveria ter aproveitado mais, discutido mais, até porque, eram garotos novos. No máximo dezesseis anos os dois tinham. E para mim, poder discutir com pessoas mais novas é o máximo.

Veja bem, eu ando observando algo muito positivo nessa juventude. Por mais confusos sobre sua sexualidade e carreira que gostariam de seguir, eu considero essa, uma juventude menos preconceituosa que a anterior. E isso é um avanço e tanto. Esses garotos estão vindo de fábrica com uma mente aberta e isso muito me agrada.

Mas, de vez em quando, acontece de você encontrar uma cabeça, digamos, um pouco mais ligada ao passado. E não creio que seja por mal, na verdade, é mais desinformação do que propriamente preconceito.

Esses garotos que encontrei entre um gole de vodka e outro, falavam sobre o feminismo e outros assuntos com um olhar desinformado. E claro, algumas vezes, fizeram-me levantar do lugar de onde eu estava sentado, para largar algumas frases que os faziam pensar. Senti isso. Isso é bom.

Mas no fundo não passava de desinformação. Ligavam feminismo com o machismo, como se fosse a luta pela soberania das mulheres. Pura desinformação. Outros detalhes nada mais eram do que o efeito de um crescimento envolto de um monte de besteiras machistas que todos estão acostumados a vivenciar por aí. Comigo não foi diferente, mas eu mudei, eles também podem mudar.

Por isso, resumindo essa curta história, eu irei dizer algo que disse aos meninos sábado à noite: Um dia, as pessoas que pensam que as mulheres não podem usar roupas curtas, as que acham as mulheres inferiores, as que são contra o casamento gay, as que pensam que o amor e família são um homem e uma mulher, um dia, elas irão ser iguais as pessoas que, antigamente, achavam que negros mereciam ser escravizados por serem inferiores. Um dia a ignorância irá perder. Lembre-se disso. Esses meninos irão lembrar. Ou talvez a vida e o tempo os ensine melhor do que um jovem bêbado. Assim como ela me ensinou um dia.