A mulher, na igreja, rezava em voz baixa, mas eu pude ouvi-la.
Eu subo, de joelhos, a escada da igreja da Penha se o Senhor fizer com que o Tonico me ame.
Ela sai da igreja e encontra o tal Tonico. Ele a convida para um sorvete. Ela deduz que foi obra do Senhor. Resolve que isso quer dizer que o cara a ama.
Na manhã seguinte vai para a igreja e sobe, de joelhos, todos os degraus, como havia prometido. No meio do caminho já está arrependida, mas fica com medo de desistir e receber algum castigo, do tipo engordar, perder os cabelos, ver nascer uma verruga na ponta do nariz, morar com a sogra ou o Tonico broxar. Segue até o fim.
Os joelhos esfolados dão alguns trocados para o laboratório que fabrica o mertiolate, nada mais.
Eu sempre fico a perguntar de que adianta alguém fazer uma promessa desse tipo. Vocês acham que Deus fica dando pulinhos de alegria porque a idiota subiu todos os degraus, de joelhos? Não, Ele não é um doente mental para se regozijar com o sofrimento alheio. Creio que Ele ficaria feliz se prometêssemos: vou passar uma tarde por semana lendo para os cegos, contando histórias para crianças ou vou levar leite para os velhinhos do asilo. Vou ouvir aquele que necessita falar, mesmo que ele seja um chato de carteirinha e que me conte a mesma história que já contou mil vezes.
Muita gente acha que não tem nada para dar, mas sempre temos, nem que seja um pouco do nosso tempo.
edina bravo
Enviado por edina bravo em 03/03/2016
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