DIA CHU(VOSO) IMPRODUTIVO ("Se é triste ver meninos sem escola, mais triste ainda é vê-los sentados enfileirados em salas sem ar, com exercícios estéreis, sem valor para a formação do homem." Carlos Drummond de Andrade)

Naquela sexta-feira, cheguei todo molhado à escola, pois estava chovendo muito! Não gosto de ir trabalhar nesse tipo de dia letivo, porque geralmente apagam as luzes. Mas, quando isso não acontece, outras medidas são tomadas, que me fazem pensar sobre a maioria das coordenadoras não gostar de professor e nem de aluno, elas querem resolver o problema pessoal e, quando "dar na telha", simplesmente avisam que vai diminuir dez minutos de cada aula para uma "assentada pedagógica", aproveitando o dia chuvoso. Estão sempre repetindo os mesmos erros ou eu desconheço os nobres motivos que as fazem unir as salas quase vazias, superlotando uma qualquer e ignorando o andamento diferenciado do ensino nas outras duas ou três que misturaram. Estou naquele momento dando aula para alunos de turmas que não são minhas. Não importa!

Ela fez isso comigo naquela sexta-feira, e uma aula contou por três, porque tinham três salas juntas, totalizando 40 alunos. Os alunos, por sua vez, aproveitaram o misturado e o rebuliço causado pela multidão para conversar paralelamente com os parceiros da outra sala, pois quase não têm esse tempo. Aquele dia chuvoso, foi muito ruim, improdutivo até! O barulho era tanto que só me restou escrever no quadro, expliquei nada. Tudo era novidade, ali menos o professor, eles estavam eufóricos! É sempre assim nessas ocasiões. As merendeiras disseram que com eles juntos é melhor para distribuir o lanche e recolher as vasilhas! O princípio não seria o mesmo para buscar o foco principal da educação? Esclarece o professor José Pacheco: "Escolas com mil ou 2 mil alunos não são escolas. São depósitos de alunos. Para haver aprendizagem tem que haver vínculo. E esse vínculo não é só cognitivo, é também afetivo, emocional, ético, estético, espiritual. Vínculo entre quem quer aprender e quem pode fazer a mediação da aprendizagem. Então, essas escolas que têm salas de 30, 40 alunos só as têm porque querem. Se tu dividires o número de alunos pelo número de educadores, eu nunca encontrei uma escola brasileira em que a relação de professor e aluno fosse maior do que um para 10. Então, por que turmas de 30 ou 40? É porque as escolas brasileiras não são geridas pela pedagogia, são geridas pela burocracia. Aquilo que se passa dentro dessas escolas não serve." http://www.ebc.com.br/educacao/2016/03/burocracia-impede-que-escolas-mudem-diz-idealizador-da-escola-da-ponte (acessado em 26/06/2021).

Outra coisa que me lembrei, parecida com isso, o tal "subir aula" ou "descer", tanto faz, derruba a qualidade da aula do mesmo jeito, também causando um anulamento do professor que fica atendendo duas salas ao mesmo tempo; Portanto, não faz nem uma coisa e nem outra, fica sendo por correspondência. Eu costumo chamar esse comportamento de "onipresença didática". Que poderia até ser possível se o veículo usado fosse a internet. Muitos gostam da "lambança" na escola para irem embora mais cedo. A questão é: Como queremos impor seriedade em atitudes que denotam interesses particularizados e fúteis?