Uma geração sem esperança

As primeiras menções ao escândalo do “Mensalão” surgiram em 2005. Naquele tempo, eu era apenas um estudante do ensino médio/técnico que estudava Estruturas Navais, e Lula ia para seu segundo ano de mandato. Lembro da cautela dos professores ao falar do escândalo, e da forma acalorada que alunos como eu criticavam o ocorrido. O que nenhum de nós não poderia prever era o alcance que esse escândalo teria, seja em questão de tempo, seja na quantidade de dinheiro e pessoas envolvidas. Naquele tempo nós tínhamos a ingênua esperança que tudo se resolveria de uma maneira democrática: com a cassação de Lula, ou com a inequívoca prova de sua inocência.

Até hoje não foi realmente bem esclarecido se de fato todo o dinheiro movimentado realmente foi usado para comprar apoio parlamentar, conforme Roberto Jeferson relatou. Ou ao menos se foi usado na proporção mencionada. O fato é que esse esquema certamente têm relação com a lavagem de dinheiro na Petrobras, antes e depois do governo Lula, bem como nas formas de obtenção ilícita de dinheiro de campanha. De qualquer forma, o desenrolar de todo esse processo de denúncias e julgamentos levou à uma fatal desmoralização da política, e ao fortalecimento desproporcional do judiciário dentro dos três poderes.

A constituição de 88 visava criar as bases democráticas de um Brasil que se livrara recentemente das garras autoritárias da ditadura. As regras e ritos criados seriam o algoritmo democrático que nos protegeriam de toda a arbitrariedade. De fato, os remédios jurídicos preveniram (e até agora previnem) de forma poderosa o autoritarismo. Contudo perderam eficiência contra a corrupção. Pois preveem foro privilegiado para políticos e muitas possibilidades de recurso. Recentemente, Ciro Gomez mandou alguns jovens manifestantes irem “para casa estudar história”; ele estava certo, só quem não sabe nada da ditadura tomaria uma atitude tão temerária como ir para a casa de um cidadão para xingar e acusar. Mas num outro ponto de vista ele está errado: nossa geração está esgotada desses políticos hipócritas que usam a democracia como trincheira para corrupção.

Isso tudo criou terreno fértil para o crescimento do mesmo tipo de força autoritária que precedeu o golpe de 64. Ela escorre dos meios de comunicação, cada vez mais parciais, seja para esquerda ou para direita. Ela se esgueira dos tribunais, onde homens que nem Moro, Gilmar Mendes e Barroso se sentem livres para ir além de seu papel como magistrados, e passam a agir como donos da república. Essa força autoritária também mora no planalto, onde uma “presidenta” caricata usa sua atribuição para proteger nas bordas da lei, um Lula agora acuado e cheio de indícios de lavagem de dinheiro.

Mais de dez anos se passaram. Os sonhos da prosperidade trazidas pelo petróleo se foram junto com honestidade na política. E a democracia, oficializada e organizada no ano que eu nasci, morre a cada notícia exagerada em letras garrafais desses jornais governistas ou golpistas!