O CIRCO


As atividades circenses são muito antigas. Há registros através de relatos, gravuras e pinturas, de que tenha sido a primeira forma de expressão artística no mundo. Hoje temos até escola para tais atividades. Acredito que, pela sua importância e entretenimento, as atividades circenses resistiram ao tempo e até hoje nos compraz com doses exageradas de risos, cores e alegria!
Moro numa cidade que não apenas valoriza a cultura do seu povo, mas também o estimula a exercê-la! Assim sendo, além de termos por aqui uma companhia de circo, já meio antiga e muito conhecida, ainda temos o prazer de receber outras tantas vindas de fora.
Na semana passada tive o prazer de ir assistir a um espetáculo de um grande circo, instalado aqui temporariamente. Acreditem, ainda hoje fico emocionada todas as vezes que ouço a frase: “Respeitável público!”, e não foi diferente desta vez. A partir desse momento, literalmente, tudo foi magia no meu pensar! A alegria tomou conta de mim, e voltei a ser criança...
Por falar em criança... Sempre fui uma apaixonada pelas atividades circenses. Na minha infância, os palhaços que povoaram minha vida, foram: O Carequinha, o Arrelia e o Pimentinha. Adorava-os! Lembro-me ainda de uma musiquinha do Carequinha que dizia mais ou menos assim: “O bom menino não faz pipi na cama, o bom menino não faz malcriação, o bom menino vai sempre à escola, e na escola aprende sempre a lição...”
Vale salientar que o meu primeiro presente quando criança, isso, aos onze anos de idade, foi uma réplica do Palhaço Pimentinha. Era o meu xodó.
Mas, voltando ao assunto... A chegada de um circo no bairro onde morava, era motivo de grande alegria. Os circos eram instalados, geralmente, nos terrenos baldios. Como estes eram muitos pela redondeza, quando não eram os circos eram os parques de diversões. Mas os primeiros sempre fizeram a minha cabeça, não porque tivesse livre acesso aos espetáculos, pois meus pais não tinham como nos proporcionar esse tipo de diversão, mas porque adorava olhar os animais de perto, nas jaulas - nesse tempo ainda era permitido.
Curtia cada momento do circo, desde a armação, os treinos, observando tudo o que ele tinha pra oferecer, até a passeata de apresentação, pelas ruas do bairro. O palhaço, dono de uma alegria contagiante, como sempre ia à frente puxando a meninada, onde perguntava: Hoje tem marmelada? E a criançada respondia – Tem sim senhor! Hoje tem goiabada? – Tem sim senhor! E o palhaço, o que é? – Ladrão de mulher!!!
Às vezes, os responsáveis pelos circos iam até as escolas públicas, onde sorteavam ingressos para os espetáculos. Lógico que, para os dias com pouco movimento. Como eu pedia a Deus para ser sorteada, mas nunca recebi essa graça. Com certeza, por falta de merecimento.
Gostava dos circos grandes e dos pequenos também. Dos grandes, porque tinham os animais selvagens mais interessantes, como: elefantes, tigres, girafas, etc., e as roupas eram mais brilhantes, tudo era mais bonito, mais colorido e mais distante também. Já dos pequenos, devido à falta de uma boa estrutura, conseguíamos chegar mais perto. A cerca que os circundava, era baixinha e facilmente chegávamos até a lona que escondia a magia tão desejada para ser vista por nós. Os buracos da velha lona, cujos remendos não mais resistiam às intempéries da vida nômade, eram as nossas chances de assistirmos fragmentos dos espetáculos. Os olhos, vidrados em cada detalhe dos movimentos do mágico, nem piscavam. Era preciso descobrir os segredos... Outras vezes, fechávamos os olhos com medo de que o trapezista caísse lá de cima, mas o melhor de tudo era o palhaço. Quantas risadas gostosas, às vezes até exageradas, a ponto de chamar a atenção dos meninos do bairro, que eram temporariamente contratados para “guardar” o circo, impedindo exatamente o que gostávamos de fazer: olhar pelos buracos da lona.
Embora os espetáculos circenses se repitam ao longo dos tempos, ainda assim, conseguem atrair a atenção das pessoas, despertando um encantamento único. Talvez pela semelhança da vida, das atividades circenses e as nossas aqui fora. Quantas vezes nos colocamos num picadeiro imaginário e nele representamos a nossa vida como um verdadeiro espetáculo? Será que também já não fomos verdadeiros domadores das nossas emoções, quando a vontade é de gritar para o mundo as nossas insatisfações? Quantas vezes brincamos de malabaristas com os nossos parcos recursos, fazendo chegar o fim do mês, sem ter que entrar no vermelho?
Mas, é com os PALHAÇOS que mais nos identificamos. Quem de nós, quando, chateados ou aperreados com alguma situação, não foi buscar equilíbrio fazendo uma piadinha com o problema? Às vezes até meio sem graça, mas e aí?
Hoje tem marmelada? – Tem sim senhor!
Vanda Jacinto
Enviado por Vanda Jacinto em 21/03/2016
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