E eu que durmo tão mal

Eu que durmo tão mal, tenho tido tranquilidade nas noites que tanto me amedrontaram. Conheci, de repente, um sentimento que se parece com a tranquilidade apesar de nunca ter, de fato, a conhecido. Foi assim que o tempo passou leve, e mudo até mesmo o modo de tocar o mundo. Meus pés perderam um peso, e, até quem não me conhece, percebe uma certa calma no meu andar. Doce é ser normal, é ser ordinário e não se angustiar com a vida. Os normais devem dormir todos os dias. Até queria dormir todos os dias, talvez seja extraordinário ser normal.

Nessas minhas noites, percebi que minha mente andou pensando pouco, não previ o dia seguinte ou os diálogos futuros, apenas, dormi. Entrei num mundo paralelo, num universo que cabem todos nós, bem ali, nos meus pensamentos. Eram pensamentos involuntários, perdi o controle das horas que passei deitada e a imprevisibilidade foi um acalento quando estava tão acostumada a calcular o mundo nas amarras da insônia. Sei que não devo mexer com o universo, afinal, uma estrela pode sentir minha falta e avisar a lua que tenho tido algumas escapadas noturnas. Sei que, caso tivéssemos chance de conversar, a insônia e eu, ou algum Deus do sono que exista em algum mundo muito distante, perguntaria se o mérito é mesmo meu, ou se o controle sobre a minha mente é apenas mais uma de minhas tantas ilusões.

Não sei se me importo com a resposta, mas algo desperta meu interesse. Sinto que ando tomando as rédeas do impulso gritante que são meus pensamentos e cresço, à medida que descubro alguns dos segredos da vida. Sei que me faltam, ainda, inúmeras respostas, porém alguns dos meus questionamentos andam sendo respondido. Talvez seja, novamente, apenas mérito do universo. Nesses meses, três, para aqueles que se preocupam com a exatidão do tempo, desvendei partes de mim. Quebrei-me em pedaços com o fim de um relacionamento tão sério como os nossos 15 ou 18 anos, recompus-me em mosaico. O fim de um relacionamento implica o fim de partes que sentimos, em algum distante passado, partes de nós que hoje são apenas uma outra alma, que já nem nos interessa, que existe, em alguma das tantas partes do mundo. E, como rios que lentamente mudam de direção, em um instante, sentimo-nos bem. E, até o mais turbulento dos impulsos, desiste de gritar ao mundo.

E não é que ando pensando antes de falar, calculando com sentimentos os próximos passos. Pois hão de ser muitos passos, talvez até corridos, afinal, nunca fui de caminhadas.

Fernanda Marinho Antunes
Enviado por Fernanda Marinho Antunes em 26/03/2016
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