Chove... Logo, penso!

Chove muito... Me surpreendo meditando... A vida tem se revelado aos poucos como uma grande geradora de surpresas... Vivo um presente sem grandes sobressaltos, um futuro que não me assusta muito e um passado que ainda dói. É certo que dói menos agora, mas ainda me incomoda o só ter percebido e enfrentado, talvez tardiamente, fatos e situações que evitei enxergar por anos e anos a fio... Duras realidades... Abalaram a minha autoestima, quase fizeram desaparecer a confiança em outros seres humanos, detonaram a minha saúde e quase me destruíram como pessoa... Os sonhos foram perdidos e nada ou quase nada restou daquilo que eu um dia almejei... Curioso paradoxo... Investe-se aquilo que julgamos ter de melhor, e de repente, tudo se vai por água abaixo... Mas... A solidão que escolhi como modo de vida, me ensinou, a ver, a pensar, a escolher e a me negar a aceitação simplista de de certos fatos e de certas pessoas... Um duro e impiedoso acerto de contas comigo mesmo! Confrontei as minhas verdades e as mentiras escondidas e negadas por tanto tempo, e a luta foi feroz... Enfrentei e ainda enfrento a duras penas a minha loucura, loucura esta ainda não vencida por inteiro. Lidei com os meus pensamentos, fantasias, ilusões e desilusões, com as dores presentes e as alegrias perdidas e irrecuperáveis... Aprendi que posso ter apenas o que é realmente meu, a gostar de quem gosta de mim e a me amar, apesar de tudo... Enfrentei o descaso dos que me eram caros, o desamor de quem eu julgava amar e o desprezo de quem eu pensava me amar... Revisei valores e conceitos a muito arraigados e descobri uma vida que até então me negava a viver... Refiz relações e terminei relacionamentos inúteis e destrutivos, aprendi a perceber de longe pessoas maldosas e a evita-las, descobri talentos até então escondidos e desvalorizados e me atrevi a mostra-los, sem receio algum... Rejeitei os contatos sociais inúteis, festas sem nenhum sentido e viagens vazias... Olhei profundamente para mim mesmo e não gostei de algumas coisas que descobri.... E me propus a muda-las... Percebi habilidades e sentimentos em desuso e resolvi utiliza-los... Descobri não ser nem anjo, nem demônio, apenas uma pessoa... Busquei perdão para alguns dos meus atos e também tentei perdoar aquilo que me causaram algumas pessoas... Anistia difícil, pois algumas feridas talvez nunca mais se fechem... E terei que aprendera conviver com elas... Ainda sonho de longe em longe com o perdido e procuro inconscientemente nos sonhos da noite, o abraço de quem não está mais por perto... Nada encontro... Ou encontro outros braços a me envolverem... E outros sonhos... Viver é continuidade... Não existe recomeço na vida ou resgate do já vivido... Muda o nosso cenário vivencial, mas permanecem os mesmos atores e os mesmos autores... Estou vivo e enquanto me dispuser a viver, viverei... E neste viver, penoso as vezes, encontro anjos... Porque eles existem, eu sei... E tento deixar para trás os meus demônios, desnecessários... São ardilosos, mas não os quero mais por perto e aprendo aos poucos a evita-los... Só desejo hoje, ter de volta a paz que me quase abandonou, reaver o sorriso que se foi e retomar por inteiro a alegria de ser e viver ... Espero poder agora celebrar enfim, um tratado de paz com a vida, antes bandida... Hoje, um pouco mais amiga.