A casa do meu avô

A casa em que morei em Malhadinha não existe mais. Ali naquela casa enorme aprendi tocar viola, cantar repente, e ler os melhores autores nacionais e universais.

Eu sempre tinha uma admiração enorme pela nossa casa antiga e também pelos nossos bons vizinhos e todos meus parentes. Naquela casa paterna eu tive bons ensinamentos, recebi muitos conselhos das minhas mães adotivas e também dos nossos autênticos vizinhos.

Foi naquele lar sublimeque passei a minha infância e aprendi a ler com a tia Marica e outros mestres mambembes. No velho alpendre daquela casa eu li os melhores livros de Gustavo Barroso, de José de Alencar, de Coelho Neto e do nosso Humberto de Campos Veras. Quando eu não estava lendo alguma coisa, estava sempre a dadilhar a viola, instrumento que toquei trinta anos por este sertão afora. A nossa velha casa ainda está muito presente em minha lembrança de poeta e autodidadta. Os conselhos das minhas tias, jamais eu os esquecerei, os ensinamentos da tia Marica e as boas leituras que a mesma fazia, ficaram dentro de mim para sempre. As rezas da tia Josefa não esquecerei nunca, os animais da tia Ana Rosa eu os lembro a cada momento. Parece me estar vendo a canoa do meu avô, amarrada no velho tamarindo. A vaca bordada da tia Marica e o burro de sela de meu pai ainda me fazem lembrar daquela casa tão querida por todos nós. Mesmo como filho sem mãe eu tive ali naquele lar excelente uma infância boa e mimada. Eu tinha das minhas mães adotivas todo tipo de carinho e apoio, como um filho orfão. Hoje, aos sessenta anos eu ainda sinto uma saudade enorme daquele lar querido por todos aqueles que residiram dentro dele. A morte ingrata foi eliminando toda minha gente e o nosso lar fraterno foi se deteriorando e tudo terminou em nada. Sou eu o único remanescente daquele lar que viu passar muitas gerações, mormente a dos meus progenitores. Aquela casa foi construída pelo meu progenitor Agostimho Jose de Santiago Neto, cidadão que deixou uma prole enorme. Como neto deste varão, eu passei metade da minha vida naquela casa ingente e tão respeitada por todos aqueles que a conheceram. Se eu pudesse voltar ao passado teria como referência aquele lar modesto onde encetei minha arte literária.

Poeta Agostinho
Enviado por Poeta Agostinho em 08/04/2016
Reeditado em 11/04/2016
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