A vida que nunca teve

Se Maria tivesse tentado, aquela pessoa poderia ter revelado o que realmente sentia por você há tanto tempo. Desde que vocês se conheceram, se aquela pessoa não estava enganada.

- Sim, eu te amo e quero ficar a vida toda ao seu lado. – aquela pessoa diria.

Nossa! Imagina? Uma vida toda ao seu lado, Maria!

Vocês iriam à festas e dançariam até o pé fazer bico! Ririam quando vissem um casal na mesma situação em que vocês estavam. Poderiam até dar uns conselhos, quem sabe? Sairiam da festa e iriam comemorar de novo em outro lugar. Talvez só os dois, dessa vez.

E os filhos, Maria!

Vocês poderiam ter crianças correndo pela casa, quebrando a mesa e trombando na parede... pra correr até você com aquela cara de “foi sem querer, desculpa...”, que faria seu coração de mãe se quebrar em mil pedaços...

Ué? E qual é o problema dessas crianças serem adotivas? Mãe é quem cria. E quando elas quisessem saber de onde elas realmente vieram e você e aquela pessoa tivessem de conversar com eles, segurando o coração com toda a força do mundo pra conter o medo de perder esses filhos que você tanto amaria, você estaria segurando firme a mão daquela pessoa, e saberia, lá no fundo, que tudo acabaria bem, porque vocês seriam uma família.

E quando ficassem velhos? Imagina só que lindo que seria! Você e aquela pessoa, andariam juntos e brigariam juntos por questões tão bobas. Ririam um do outro por terem envelhecido, ameaçariam arrumar alguém mais novo só pra poder ouvir um retrucamento enciumado do tipo “e quem, além de mim, ia te querer velho assim?”

Quando a notícia de que vocês fossem ser avós chegasse até vocês e vocês sentissem o coração crescer mais dois metros e viesse aquele sufoco de achar que ia ter um infarto de tanta alegria? Já pensou?

Claro que já.

Você já pensou em muita coisa, Maria. Mas também precisamos tentar!

Mas nada disso aconteceu...

E o futuro se perdeu.