O MUNDO DE MUNDICO

Por causa de seu sobrenome, José Raimundo Pitanga ganhou de presente, quando ainda bebê, uma muda de pitangueira do padrinho de Uberaba, que pouco tempo depois, morrera em um trágico acidente de carro, mas a lembrança do querido padrinho ficou e aumentava ainda mais quando o pequeno se aproximava da árvore já frutífera de sombra majestosa.

Aquela cena vivida em meados dos anos noventa, era quase um ritual sagrado na vida do pequeno garoto, mal acordava, ainda esfregando os olhos, com manchinhas úmidas de pasta de dentes na roupa, ia de encontro ao que era seu pedaço de mundo encantado, por incrível que pareça, aos olhos dos primeiros raios de sol, a planta recebia um abraço caloroso do menino, as gotículas do orvalho matinal se misturavam com as lágrimas saudosas do menino, parecia dois seres chorando.

O menino passava ali boa parte do dia, brincava. Chorava. Sorria. Regava. Aquela já média árvore é que era sua amiga de todas as horas, quem lhe protegia dos raios solares, quem refrescava sua alma e sua mente, quem lhe apoiava as costas quando estava cansado, era ali, debaixo daquele pé de pitanga que a vida tinha sentido para Mundico, era lá o seu verdadeiro mundo encantado.

Foi triste o dia em que Mundico teve que ir à escola pela primeira vez, não queria deixar a árvore só, talvez quisesse leva-la consigo, foi preciso que o pai e a mãe lhe desgrudassem de lá do pé de pitanga à força. Agora, mais triste ainda, foi quando tiveram que vender o sítio, e Mundico foi arrancado de lá para a cidade grande, era como se ele estivesse sendo desenraizado do solo, perdendo um pedaço de si, adoeceu na viagem, teve delírios à noite, quase enlouqueceu chorando calado, sofreu demasiadamente como se sofre ao perder um ente querido, pouco tempo depois, a árvore foi aos poucos secando, teve as folhas caindo e morreu, uns dizem que de solidão, outros, que de tristeza.

GILMAR SANTANA
Enviado por GILMAR SANTANA em 17/04/2016
Código do texto: T5608120
Classificação de conteúdo: seguro